Destruição do mercado vai além da falta de proteção legal, e profissionais com formação universitária aceitam vagas que não exigem ensino superior e pagam menos
A propalada “recuperação” dos postos de emprego no Brasil após a crise da pandemia traz em seu bojo a decadência do mercado de trabalho. Nessa última quadra do desgoverno Bolsonaro, a ocupação cresce com mais intensidade apenas em posições que exigem menor escolaridade, os salários são mais baixos e as perspectivas de ascensão profissional são mínimas, pela baixa complexidade das vagas oferecidas.
“O mercado de trabalho vai se precarizando não somente no estabelecimento de vínculos de trabalho sem proteção trabalhista ou social, mas também por meio da geração de empregos pouco complexos e pela perda de rendimentos.” Esse é o quadro pintado pelo boletim Emprego em Pauta, divulgado nesta terça-feira (13) pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Os técnicos da entidade afirmam que a expansão da ocupação ocorre em posições que exigem menos qualificação formal. “O aumento da escolarização da população, visto na última década, tem sido pouco aproveitado pelo mercado de trabalho nessa retomada da atividade econômica”, apontam os pesquisadores.
Conforme o estudo, o número de pessoas ocupadas cresceu 9,9% entre o segundo trimestre de 2021 e o de 2022. Nesse período, o grupamento ocupacional com maior expansão foi o de trabalhadores dos serviços, vendedores dos comércios e mercados (17,9%), seguido por operadores de instalações e máquinas e montadores (15,8%).
Nesse período, a ocupação cresceu cinco vezes menos entre atividades que, em geral, exigem nível superior. Entre elas, diretores e gerentes (3,0%) e profissionais das ciências e intelectuais (3,4%), as chamadas ocupações típicas para esse grau de qualificação.
Proporcionalmente, a ocupação cresceu com mais intensidade entre pessoas com menor escolaridade – sem instrução e com menos de 1 ano de estudo (31,4%), e ensino médio incompleto ou equivalente (14,0%). Entre os que têm superior incompleto ou equivalente, a quantidade de ocupados ampliou-se em 6,1%, enquanto entre os com ensino superior completo, cresceu somente 3,6%.
A falta de vagas para profissionais com maior qualificação fez com que, entre os trabalhadores com superior completo, o crescimento das ocupações consideradas não típicas (6,7%) fosse bem maior que as ocupações típicas (1,3%).
Com isso, entre os 749 mil trabalhadores com ensino superior que encontraram ocupação em 12 meses, apenas 160 mil ingressaram em vagas que requerem formação superior. Outros 589 mil, ou 78,6%, tiveram que se contentar com vagas de baixa escolaridade. Entre essas ocupações não típicas, o número de balconistas e vendedores de lojas cresceu 16,4% e o de vendedores a domicílio, 6,8%, englobando 567 mil pessoas.
Com relação ao rendimento médio, os ocupados com superior completo foram os que sofreram a maior perda (-5,6%), seguido pelos com ensino médio incompleto ou equivalente (-1,8%). Entre os que possuíam ensino superior completo, o rendimento médio aumentou somente em três grupos ocupacionais, caindo em outros sete.
Retrocesso bolsonarista ameaça oportunidade no mercado de TI
O mercado de trabalho nacional regrediu desde o golpe de 2016 contra a presidenta legítima Dilma Rousseff. O usurpador Michel Temer, com uma “reforma trabalhista” que abriu as portas para a precarização, e Jair Bolsonaro, com seu mantra “melhor emprego sem direitos que direitos sem emprego”, criaram um “país dos trabalhadores informais”.
LEIA MAIS: No Brasil de Guedes, trabalho informal bate novo recorde
Bolsonaro foi além e promoveu devastação inédita no campo do conhecimento. Transformou o Ministério da Educação (MEC) em território de negacionistas e balcão de negócios escusos com pastores ilegítimos, enquanto estrangulou o orçamento para Ciência e Tecnologia. Ao sabotar a inteligência nacional, agravou a degradação do mercado do trabalho no momento em que o país discute a transição para o trabalho 4.0.
Um estudo da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom) aponta que o Brasil terá que contratar mais de 790 mil profissionais de Tecnologia de Informação (TI) até 2025. Realizado no ano passado, o levantamento estimava que seria preciso formar mais de 150 mil pessoas ao ano, mas apenas 53 mil pessoas são formadas anualmente em TI no Brasil.