Responsável por um arrocho monetário que vem impedindo o Brasil de crescer com velocidade e gerar mais empregos, o presidente do Banco Central (BC) Roberto Campos Neto volta a fazer uso de uma espécie de terraplanismo econômico para atentar contra os interesses do povo brasileiro. Porta-voz do capital financeiro, Neto, que responde pela maior taxa de juros reais do mundo (quase 7%), disse na quinta-feira (23) que “o fiscal” é a principal preocupação do país, em mais um ataque aos investimentos promovidos pelo governo Lula em benefício da população.
“No capítulo do Brasil, a maior preocupação é com o fiscal. Existe uma diferença muito grande entre o que o mercado acredita que vai ser o número fiscal e o que o governo “, afirmou Campos Neto, em um ato velado de terrorismo fiscal contra a política econômica do governo. “Mesmo com o arcabouço, a despesa do Brasil ainda é bem maior do que a média do mundo emergente” justificou. “Quando a gente olha em termos de espaço de gasto fiscal, tem pouco espaço para aumentar a carga fiscal”.
“Campos Neto segue dizendo que o problema do Brasil é a questão fiscal, os investimentos do governo e não a maior taxa de juros do planeta que ele mantém”, reagiu a presidenta do PT Nacional, Gleisi Hoffmann. “A tal autonomia do Banco Central deu nisso: um país submetido a uma política monetária derrotada nas urnas”, criticou a deputada federal (PT-PR).
A austeridade fiscal que caracteriza a obsessão do “mercado” por superávit primário em detrimento de investimentos em projetos sociais e desenvolvimento é o que caracteriza a velha estratégia do capital especulativo. Por essa visão, investimento vira “gasto excessivo”. O Estado, na visão farialimer da economia, tem de ter dinheiro é para pagar os juros estratosféricos da dívida pública e manter os padrões do rentismo, ancorados na taxa de juros, hoje no altíssimo patamar de 12,25%. Ou seja, o Estado não deve se preocupar investir em escolas e hospitais e, sim, em engordar os bolsos da elite financeira.
Drenagem de recursos ao sistema financeiro
“Em 2022, os gastos do governo federal com o pagamento de juros e amortizações da dívida pública somaram R$ 1,879 trilhão, o que representou 46,3% do Orçamento Federal Executado”, lembrou o portal Auditoria Cidadã, em reportagem publicada em fevereiro. Somente em 2022, a Dívida Pública Federal aumentou R$ 464 bilhões, “consumindo, portanto, a maior fatia de todos os recursos públicos federais”, observa a organização.
As “análises” de Campos Neto escondem, portanto, o temor do mercado de que o governo Lula aumente investimentos sociais ao invés de seguir despejando dinheiro dos cofres públicos na farra rentista que se beneficiou de mecanismos como o teto de gastos. Desde o golpe de 2016, o teto funcionou perversamente como uma âncora contra gastos em saúde e educação, enquanto permitiu que toda verba federal não utilizada pudesse ser drenada para pagar juros da dívida.
Campos Neto e a hipocrisia do mercado
A preocupação de Campos Neto com o “fiscal”, como se sabe, é seletiva. Não se ouviu o presidente do Banco Central reclamar das lambanças de Paulo Guedes e de seu ex-chefe, Jair Bolsonaro, com as contas públicas. A ponto de a dupla deixar um rombo inacreditável de R$ 795 bilhões no ano passado, gerando um silêncio ensurdecedor em Neto, no “mercado” e na mídia corporativa, enquanto a fome escalava no país.
“Bolsonaro abriu um rombo fiscal de 10% do PIB em 4 anos, sem precedentes na história”, lembrou Gleisi Hoffmann, no início do mês. “No último ano, deu calote em precatórios, descapitalizou estatais e fez maquiagem de contas. Mas o Pai da Mentira não toma jeito e agora vem dizer que seu governo sabia cuidar do fiscal. O que ele fez foi o pior governo da história do Brasil. Por isso foi o primeiro presidente que não conseguiu se reeleger”.
“O presidente Lula disse o óbvio: dinheiro público tem de ser transformado em obras e políticas sociais”, apontou, referindo-se a uma fala do presidente Lula sobre gastos públicos, sempre demonizados pela mídia hegemônica. “Isso vale para qualquer país em qualquer tempo, mas as manchetes falam em ‘gastança’. Como se as despesas do governo já não fossem reguladas por uma legislação aprovada no Congresso e sujeita a permanente fiscalização”, advertiu a petista.
Da Redação do PT