Em entrevista publicada nesta quarta-feira (21) pelo jornal Corriere della Sera, um dos mais importantes da Itália, Lula defendeu um mundo que não esteja nem sob o domínio de uma só nação nem dividido por uma disputa entre apenas dois blocos.
“Sonho com um mundo multipolar”, resumiu. “A criação de diferentes redes, de diferentes acordos entre países, pode ajudar a equilibrar e contrabalançar tendências e tensões conflitantes”, completou o presidente, que cumpre uma extensa agenda nesta quarta na Itália e no Vaticano.
Por isso, o presidente diz que a união de países em blocos como os Brics (formado até agora por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que realizará um novo encontro em 22 de agosto, traz benefícios para o mundo todo.
“A cúpula do Brics é importante para todos. Essa coalizão de economias emergentes demonstrou a importância de agregar diversas vozes à discussão global. Acreditamos que um mundo multipolar é melhor do que uma supremacia unipolar ou uma disputa bipolar”, explicou.
Como exemplo, Lula citou o Conselho de Segurança das Nações Unidas, que, em sua opinião, precisa ser reformado. “Ele ainda representa o equilíbrio de poder do mundo em 1945. Quase 80 anos depois, muita coisa mudou e precisamos de um Conselho maior e mais representativo, com vozes da América Latina e da África, para realmente contribuir com a paz e a segurança.”
Guerra
Ao lado do papa Francisco, Lula se tornou uma das principais vozes em defesa de um esforço internacional para que a guerra entre Rússia e Ucrânia chegue ao fim. O tema deve ser discutido entre o presidente e o líder da Igreja, em um dos vários encontros que Lula agendou para esta quarta-feira.
“Encontro o papa enquanto há um conflito na Europa que afeta a todos. Enviei um enviado especial, Celso Amorim, a Moscou e Kiev. Ambos os países acreditam que podem vencer militarmente: eu discordo. Eu acho que há poucas pessoas falando sobre paz”, lamentou.
“A minha angústia é que, com tanta gente com fome no mundo, com tantas crianças sem comida, em vez de tratar de como resolver desigualdades, estamos tratando de guerra. É urgente que a Rússia e a Ucrânia encontrem um caminho comum para a paz”, acrescentou.
Meio ambiente
Outro tema que os dois certamente devem abordar é a questão climática, sobre a qual Lula também falou ao jornal italiano. O presidente ressaltou que seu governo rompeu com as políticas destrutivas de Jair Bolsonaro e está comprometido com a preservação ambiental.
“Retomamos a luta contra o desmatamento, visando o desmatamento zero até 2030, e também combatemos o garimpo ilegal e outras atividades criminosas que destroem o meio ambiente na região”, lembrou, acrescentando que o governo já expulsamos mais de 20 mil garimpeiros ilegais das terras indígenas Yanomami.
Ele lembrou ainda que a preservação não precisa impedir o desenvolvimento da região amazônica, afinal a população que vive na área precisa de renda, trabalho, proteção social, saúde e educação, justamente para poder proteger a floresta.
“Queremos falar sobre uma nova visão de desenvolvimento sustentável para a região, onde vivem 25 milhões de brasileiros. Investir na investigação científica, nas indústrias limpas, no turismo, para que a floresta valha mais também para quem nela vive”, explicou, lembrando que o Brasil sediará a Cúpula da Amazônia, em agosto, e a COP30, em 2025.
Transição energética
O presidente acrescentou que o país tem capacidade de ajudar o mundo na transição para uma economia menos poluente. “Também estamos nos concentrando em energia renovável. 87% da nossa eletricidade vem de fontes renováveis, bem acima da média mundial de 28%. Ou seja, a atividade industrial no Brasil emite poucas emissões de carbono, queremos expandir a produção de energia solar e eólica, o potencial do Nordeste brasileiro é enorme. Podemos ser um grande produtor de hidrogênio verde.”
Por fim, sobre a importância de sua visita à Itália, Lula lembrou que o país europeu e o Brasil têm uma longa história de colaboração. “Temos cerca de 1.400 empresas italianas no Brasil e mais de 20 grandes empresas brasileiras na Itália”, ressaltou.
Da Redação do PT