Marcha das Margaridas: Uma luta contínua por reconhecimento e igualdade

Por Julimar Roberto:

Nós, como sociedade, enfrentamos uma trajetória complexa e contínua rumo à igualdade de gênero e ao reconhecimento pleno dos direitos das mulheres. A “Marcha das Margaridas” surge como um símbolo emblemático dessa luta incansável, um movimento que reúne mulheres do campo, da floresta, das águas e das cidades, unindo forças para reivindicar direitos e promover uma mudança genuína em nossa sociedade. A marcha é um testemunho vivo das conquistas e dos desafios enfrentados pelas mulheres brasileiras ao longo do tempo.

A história da Marcha das Margaridas remonta a 2000, quando um grupo de mulheres agricultoras organizou a primeira edição desse evento massivo e impactante. O nome “Margarida” foi escolhido em homenagem à líder sindical Margarida Maria Alves, que foi assassinada em 1983 enquanto defendia os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais. Desde então, a marcha ocorre a cada quatro anos, reunindo dezenas de milhares de mulheres em Brasília para protestar, exigir mudanças e celebrar suas conquistas.

Idealmente, a necessidade de marchar não deveria existir. Em um mundo perfeito, as mulheres não seriam submetidas a desigualdades, discriminação ou violência. No entanto, a realidade é outra. A Marcha das Margaridas é uma resposta a uma série de problemas sistêmicos que ainda prevalecem: falta de acesso à educação e à saúde de qualidade, violência de gênero, salários desiguais e pouca representatividade política. Esses desafios impulsionam as mulheres a marchar, a fim de chamar a atenção da sociedade e dos governantes para a necessidade de mudanças substanciais.

Ao longo dos anos, a relação entre os governos e a Marcha das Margaridas tem variado, refletindo as diferentes abordagens políticas em relação aos direitos das mulheres. Governos progressistas, como os de Lula e Dilma, demonstram mais sensibilidade para as demandas das marchantes, reconhecendo sua luta e promovendo políticas e programas que visam melhorar as condições de vida das mulheres rurais e urbanas.

Por outro lado, governos de direita, como o de Bolsonaro, apresentaram uma abordagem mais distante em relação às reivindicações das margaridas. Esses governos, explicitamente minimizaram os problemas enfrentados pelas mulheres e reduziram a quase zero o apoio a políticas e programas voltados para a igualdade de gênero.

No ano de 2023, a Marcha das Margaridas ganhou uma nova dimensão ao contar com a presença e o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante o evento em Brasília, Lula fez um discurso inflamado, em que se referiu ao ex-presidente Jair Bolsonaro como “fascista e genocida”, sem mencionar seu nome diretamente. Esse momento destacou a importância da marcha como um espaço de protesto e resistência.

Lula não apenas expressou palavras contundentes, mas também demonstrou seu compromisso com as pautas das mulheres ao assinar oito decretos em resposta às reivindicações do movimento. Entre esses decretos, destacam-se medidas como a retomada da Reforma Agrária com atenção às famílias chefiadas por mulheres, a criação de uma Comissão de Enfrentamento à Violência no Campo e a instituição do Programa Nacional de Cidadania e Bem Viver para as Mulheres Rurais. Essas ações reforçam a importância de políticas específicas para abordar as desigualdades de gênero e promover a inclusão das mulheres rurais.

Apesar das mudanças políticas e das batalhas contínuas, a Marcha das Margaridas persiste como uma manifestação de esperança e determinação. As mulheres continuam a marchar, alçando suas vozes contra a opressão e pela igualdade, numa luta que transcende barreiras políticas, sociais e até geográficas, inspirando a ação e a conscientização. Enquanto a Marcha das Margaridas floresce, ela nos lembra que a jornada rumo à igualdade é uma responsabilidade compartilhada e que, juntos, podemos construir um Brasil onde as flores da dignidade e dos direitos floresçam para todas as Margaridas do país.

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