A Polícia Federal cumpriu nesta quarta-feira (27) três mandados de prisão preventiva e dez mandados de busca e apreensão em Minas Gerais, Paraná, São Paulo, Goiás e Distrito Federal por ordem do STF. A Corte determinou a identificação de pessoas que depredaram, instigaram, financiaram e fomentaram os ataques terroristas em Brasília. As ações da PF estão no âmbito da 17ª fase da Operação Lesa Pátria.
Um dos presos é Aildo Francisco, vulgo Bahia, que invadiu o STF e fez uma transmissão ao vivo nas redes sociais sentado na cadeira do ministro Alexandre de Moraes dia 8 de janeiro, “ecoando uma ofensiva de bolsonaristas contra o ministro”, informou a jornalista Camila Bonfim do site G1. A outra presa é Basilia Batista (SP), detida um dia após os ataques golpistas na Esplanada dos Ministérios, mas que acabou sendo liberada. Segundo Camila, a PF tem informações “localizadas e aprofundadas sobre o vandalismo da ‘reincidente’ no Congresso, e sobre seus planos de incitar um golpe de Estado”.
A PF busca ainda pela advogada Margarida Marinalva de Jesus Brito (DF), acusada de esconder celulares de clientes e colegas para impedir que a PF tivesse acesso a troca de mensagens que poderiam comprometer os golpistas. Ela teria recolhido celulares de mais de 40 clientes de Sinop (MT), conforme o G1 divulgou.
Os alvos da operação Lesa Pátria respondem por crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido. Eles têm ‘histórico continuado’ no golpismo e são “vândalos com planejamento”, segundo a jornalista do G1, e têm “perfil de desafiar autoridades em todas as frentes: seja em lives golpistas, seja na “reincidência” dos comportamentos, seja tentando acobertar colegas”.
Alguns dos alvos de busca e apreensão foram Danilo Silva e Lima (GO), Osmar Pacheco da Silva (GO), Wanderley Zeferino da Silva (GO), Luciene Beatriz Ribeiro Cunha (MG) e Erli Antonio Fernandes (MG). Danilo, Osmar e Wanderley são de Inhumas (GO), segundo o portal DCM.
A operação Lesa Pátria é baseada nas quatro frentes de investigação abertas após os atos de 8 de janeiro, conforme publicou a Folha de São Paulo. A primeira tem como foco os possíveis autores intelectuais, “e é essa frente que pode alcançar Bolsonaro”. A segunda visa mapear os financiadores e os responsáveis pela logística do acampamento e transporte de bolsonaristas para Brasília. A terceira linha de investigação da PF são os vândalos, para identificar e individualizar a conduta de cada um dos envolvidos na depredação dos prédios da Praça dos Três Poderes. A quarta frente é sobre autoridades que se omitiram e facilitaram a atuação dos terroristas em Brasília.
Até agora a Lesa Pátria, iniciada em janeiro, soma 81 mandados de prisão, 287 mandados de busca e apreensão e tem 17 inquéritos instaurados.
O site DCM publicou mais detalhes sobre alguns dos alvos de hoje da Lesa Pátria.
Aildo Francisco Lima ganhou destaque em todo o país depois de registrar um vídeo em frente ao Congresso Nacional com um pano branco cobrindo o rosto, que estava sendo usado como máscara. Além disso, o simpatizante de Bolsonaro foi identificado como a pessoa que ocupou a cadeira de Moraes durante uma transmissão ao vivo dos acontecimentos no STF. Ele mora em Campo Limpo Paulista e a plataforma JusBrasil revelou que seu nome está associado a 23 processos que se encontram distribuídos por diversos tribunais, com destaque para o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).
Margarida Marinalva de Jesus Brito (DF), advogada, é suspeita de recolher os celulares de participantes dos atos golpistas para evitar sua identificação. Ela morava em Águas Claras (DF) e supostamente fazia parte do Movimento Advogados de Direita.
Luciene Beatriz Ribeiro Cunha (MG) é suspeita de incitar os ataques na capital federal e tem seu nome mencionado em quatro ações na plataforma JusBrasil, a maioria delas no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG).
Erli Antonio Fernandes (MG) é de Caratinga e foi um dos responsáveis por filmagens dentro do Congresso Nacional em que dizia que “nós não podemos aceitar isso”.
Lesa Pátria busca também os mentores do golpe contra a democracia
A Operação Lesa Pátria teve início 12 dias após os ataques terroristas às sedes dos Três Poderes em Brasília dia 8 de janeiro. Na ocasião a PF prendeu cinco suspeitos de participação, incitação e financiamento nos atos golpistas e decretou buscas em 16 endereços em seis estados.
Desde então, a PF abriu um canal de denúncias e tornou a operação permanente. O objetivo é identificar os mentores por trás da tentativa de golpe contra a democracia e as instituições, com buscas por pessoas que participaram, financiaram, omitiram-se ou fomentaram os fatos ocorridos em Brasília.
Dia 5 de setembro a PF deflagrou a 16ª fase da Lesa Pátria, uma das mais importantes, com 53 mandados de busca, apreensão e indisponibilidade de bens em sete estados para identificar os financiadores dos atos terroristas de 8 de janeiro em Brasília. Segundo a PF, os danos causados aos prédios do Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal e Palácio do Planalto acumulam prejuízo em torno de R$ 40 milhões. “Sobre os atos golpistas de 8 de janeiro, Polícia Federal cumpre hoje mais 53 mandados judiciais, com busca e apreensão, além de indisponibilidade de bens”, postou o ministro da Justiça Flávio Dino.
Em fases anteriores da operação, aconteceram prisões como a de Antônio Cláudio Alves Ferreira, extremista capturado pelas câmeras do Palácio do Planalto e que destruiu o relógio de pêndulo de Dom João VI. Ele foi preso em Uberlândia (MG). A idosa Maria de Fátima Mendonça, de 67 anos, que viralizou ao dizer em um vídeo que ia ‘pegar o Xandão’, também foi presa. O sobrinho de Bolsonaro, conhecido como Léo Índio, foi alvo de buscas em seu endereço na terceira fase da Lesa Pátria. Em fevereiro quatro oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal suspeitos de conivência com os terroristas. Um deles é o coronel Jorge Eduardo Naime Barreto, que era chefe do Departamento Operacional da corporação, setor responsável pelo planejamento da operação de segurança para o dia 8 de janeiro.
No final de agosto a Lesa Pátria alcançou o valentão Amauri Ribeiro, deputado estadual de Goiás (União Brasil). Dia 6 de junho ele fez discurso na tribuna da Assembleia Legislativa de Goiás dizendo que “deveria estar preso” por ter ajudado, com dinheiro, comida e água, os radicais que estavam nos acampamentos em frente aos quartéis do Exército, protestando contra o resultado das eleições. Ribeiro, que também confessou ter acampado junto com os manifestantes e afirmou que “faria tudo de novo”.
Da Redação do PT