Em encontro estratégico para preservar e fortalecer o Mercosul, presidente Lula defendeu acordos comerciais do bloco com outros países. Lula também recebeu medalha por defender meio ambiente e discursou para uma praça lotada de apoiadores
Depois de uma passagem histórica pela Argentina, onde restabeleceu oficialmente os laços do Brasil com o mundo após o ostracismo bolsonarista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou o dia no Uruguai, nesta quarta-feira (25), com agenda de estadista: reunião de trabalho com o presidente da República, homenagem da prefeita da capital e visita ao amigo Pepe Mujica. Em meio a tudo isso, um discurso a populares que lotavam uma das principais praças da capital uruguaia.
O encontro com Lacalle Pou foi simbólico e estratégico. Lula poderia ter aproveitado a presença do colega uruguaio na Cúpula da Celac, terça-feira na Argentina. Mas preferiu a visita oficial, num gesto de prestígio ao país vizinho, para realizar uma reunião de trabalho, com a participação de vários ministros, em especial Fernando Haddad (Fazenda).
O objetivo de Lula é mostrar a Lacalle Pou as vantagens de fortalecer o Mercosul em vez de fechar um acordo comercial exclusivo com a China. Essas negociações já acontecem há dois anos, mas num contexto em que o governo brasileiro deu as costas para os vizinhos. Agora a situação se inverteu. Em declaração à imprensa ao lado do colega uruguaio, Lula defendeu acordos comerciais entre o bloco e outros países.
“Vamos intensificar as discussões (do Mercosul) com a União Europeia e vamos firmar esse acordo para que a gente possa discutir um possível acordo entre China e Mercosul, e eu acho que é possível”, afirmou. “Apesar do Brasil ter na China o seu maior parceiro comercial e do Brasil ter um grande superávit com a China, nós queremos sentar, enquanto Mercosul, e discutir esse acordo”, completou.
Ao mesmo tempo, Lula e Lacalle discutiram questões práticas que podem aproximar ainda mais os dois países, literalmente. É o caso da construção da segunda ponte sobre o rio Jaguarão, ligando os municípios de Jaguarão (Brasil) e de Rio Branco (Uruguai). Lula lembrou que a obra já era discutida pelo seu governo anterior.
“Pensei que essa ponte já estava pronta e hoje soube que nem começou. Quero assumir de novo esse compromisso que vamos fazer essa ponte. Interessa ao Brasil, ao Uruguai, ao povo dos dois países”, garantiu. O acordo de construção foi firmado em 2007 e, após aprovação do Congresso, foi promulgado em 2013, mas ainda não foi concretizado. A ponte antiga, Barão de Mauá, de 92 anos, não comporta trânsito pesado e precisa de reforma.
Outra obra debatida é a hidrovia na Lagoa Mirim e na Lagoa dos Patos, vital para ligar a produção de arroz do norte do Uruguai ao porto de Rio Grande, mas que depende de dragagem do canal no lado brasileiro. Além disso, o Brasil deve apoiar a internacionalização do Aeroporto de Rivera, cidade que faz fronteira seca com Santana do Livramento (RS).
O fluxo comercial entre os dois países foi de US$ 4,7 bilhões em 2022, sendo que 83% dos produtos exportados pelo Brasil são da indústria de transformação, com maior valor agregado. O Brasil já é o segundo maior comprador de produtos do Uruguai, com 16%, já atrás da China, com 28% (dados de 2021).
Homenagem e visita
A segunda parte da agenda foi na Prefeitura de Montevidéu, onde Lula recebeu das mãos da prefeita Carolina Cossa a medalha “Más Verde”, uma homenagem concedida a lideranças pela sua atuação na defesa do meio ambiente e da sustentabilidade do planeta. Após receber o prêmio, o presidente brasileiro foi à sacada do prédio da Prefeitura e discursou para a população, que lotava uma das principais praças de Montevidéu.
“Tive a honra de receber a medalha Más Verde. Agradeço à prefeita pela premiação e hospitalidade. Vamos trabalhar na defesa do futuro do planeta”, afirmou Lula, que reforçou o compromisso com a população de toda a região.
“Vamos construir em definitivo a unidade da América do Sul e da América Latina e fortalecer o Mercosul para melhorar a vida do povo. Se a humanidade está passando por um momento difícil, não é a hora de ninguém desanimar ou perder a esperança. Precisamos levantar a cabeça e recuperar a capacidade de nos indignarmos contra o preconceito de gênero, racial e com as pessoas mais pobres, para que a gente possa construir um mundo melhor, mais justo melhor e mais solidário”, concluiu.
Dali, Lula e a comitiva presidencial seguiram para a chácara onde reside o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, para um encontro entre velhos amigos, com direito a passeio no tradicional Fusca do uruguaio, um dos mais prestigiados pensadores da esquerda que faz questão de levar uma vida simples e sem regalias de ex-presidente.
Fonte: Site PT