No Natal dos Catadores, nesta quinta-feira (15), presidente eleito reitera compromisso de cuidar da população em situação de rua. “Para cuidar do povo pobre, é preciso ter muito coração”, disse Lula
Tradicional evento de fim de ano, o Natal dos Catadores é uma emocionante festa popular que conta com a presença do presidente Lula há 19 anos. Desde que tomou posse pela primeira vez, em 2003, Lula faz questão de comparecer para prestigiar o Natal dos catadores de material reciclável. Neste ano, a festa organizada pela Associação Nacional dos Catadores, nesta quinta-feira (15), em São Paulo, contou com a presença da presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e do futuro ministro da Economia, Fernando Haddad. Como de costume, Lula recebeu o selo Amigo do Catador das mãos de lideranças do Movimento Nacional dos Catadores de Rua.
“Nós estamos começando uma nova jornada”, anunciou Lula. “Sei a falta de respeito que os catadores foram tratados nos últimos anos. A falta de compreensão de muitos gestores”, afirmou o presidente. “Ainda não estou presidente, só a partir do dia 1° de janeiro. Quando for presidente, vou cuidar do povo em situação de rua”, prometeu o petista. “Quero um encontro especificamente com o povo da rua aqui em São Paulo”, disse, olhando para o padre Julio Lancellotti.
“Nós vamos governar para todos, mas temos uma preferência moral e ética de cuidar daqueles que tiveram seus direitos retirados”, observou Lula. “Vejo mulheres e crianças dormindo na rua, entre carros passando. E o Estado não aparece”, criticou. “Quero ver catadores andando na rua de cabeça erguida. Porque é um trabalho digno, e muitas vezes estão catando o lixo de quem não tem respeito e joga na rua”.
“Para cuidar do povo pobre, é preciso ter muito coração”, disse o presidente. “A gente não cuida do povo pobre se olharmos só para o orçamento. Sempre haverá prioridade para os pobres. É um compromisso que assumo faltando 16 dias para assumir a presidência”, prometeu Lula.
Natal da esperança
A presidenta Nacional do PT, Gleisi Hoffmann, festejou a participação decisiva dos movimentos populares na eleição de Lula e agradeceu os movimentos populares de catadores e catadoras. “Esse Natal é o da felicidade, da vitória, da esperança e se deve à luta que vocês fizeram”, celebrou.
“Não tenho dúvidas de que todos esses programas que entregaram aqui serão olhados com carinho, até porque vocês participaram do grupo de transição, no grupo de Maio Ambiente, no Conselho de Participação Social”, lembrou a deputada. “A gente quer que o Estado olhe para quem precisa, só faz sentido se for para cuidar do povo”, ressaltou.
Pobre no orçamento
“A primeira vez que trabalhei com Lula, ele nos deu um tarefa: colocar o pobre na universidade. Depois de alguns anos de trabalho, conseguimos cumprir essa promessa de campanha de 2002 e permitir que as famílias mais humildes pudessem sonhar que seus filhos e netos chegassem aos mais altos escalões da educação nacional”, lembrou o ministro nomeado da Fazenda, Fernando Haddad.
“Nessa campanha, o presidente Lula fez outra promessa, colocar o pobre no orçamento e o rico no imposto de renda”, observou Haddad. “Ele me colocou essa nova tarefa, e se tivermos o mesmo êxito de quando nos foi dada a tarefa da educação, teremos um país mais justo, que é o que nós precisamos”.
“Todo mundo precisa de uma oportunidade na vida. Com essa frase simples, Lula resumiu o que espera da área econômica no novo governo: justiça social, que começa [com o governo] atendendo vocês”, concluiu o futuro ministro.
Intervenções hostis na arquitetura
No evento, o padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo da Rua de São Paulo, fez um discurso indignado contra a opressão do desgoverno Bolsonaro contra as populações vulneráveis. “Estamos cansados de sermos tratados como lixo, apanhando da Guarda Civil Metropolitana, da limpeza urbana. São poucos os moradores de rua aqui dentro, muitos estão nas calçadas, nos viadutos. Ninguém quer saber dos mais pobres”, desabafou Lancellotti.
“Estou esperando que o Congresso Nacional derrube o veto do Bolsonaro sobre as intervenções na arquitetura hostil. Será sancionada essa lei em Recife, em Alfenas (MG). Que haja uma Secretaria Nacional para a população de rua, que tenhamos mutirões e todos tenham um CadÚnico, que a população de rua receba renda”, reivindicou o padre. “Que não haja programas de tutela, mas de autonomia”.
Lancelloti referiu-se ao Projeto de Lei (488/21) de autoria do senador Fabiano Contarato (PT-ES) apelidado de Padre Júlio Lancelotti. O projeto, que proíbe a arquitetura hostil e foi vetado pelo Bolsonaro, entrou na pauta de deliberação no Congresso Nacional nesta quinta. Lancelloti também pediu a criação de uma secretaria que atenda a população em situação de rua.