Lula: “Não podemos esperar outra tragédia para construir uma nova governança global”

O presidente Lula disse nesta terça-feira (24) na abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, que o mundo não pode esperar por outra tragédia mundial, como a Segunda Grande Guerra, “para só então construir sobre os seus escombros uma nova governança global”.

O presidente do Brasil lembrou que prestes a completar 80 anos, a Carta das Nações Unidas nunca passou por uma reforma abrangente e apenas quatro emendas foram aprovadas, todas elas entre 1965 e 1973. Ele propôs “enorme esforço de negociação” para que uma revisão abrangente seja feita.

Durante sua fala, Lula ainda reforçou o fato de que a ONU nunca teve uma mulher ocupando o cargo mais alto de secretário-geral.

“Estamos chegando ao final do primeiro quarto do século 21 com as Nações Unidas cada vez mais esvaziada e paralisada. É hora de reagir com vigor a essa situação, restituindo à organização as prerrogativas que decorrem da sua condição de foro universal. Não bastam ajustes pontuais. Precisamos contemplar uma ampla revisão da Carta”.

O líder do governo Lula no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), classificou o discurso como “histórico” e afirmou que a mensagem de Lula ao mundo “está à altura do prestígio que tem em todo o mundo”. “Depois de quase 80 anos, a ONU precisa reagir para voltar a ser um fórum universal para evitar e encerrar guerras, promover a paz, acabar com a fome e a miséria, controlar o uso de inteligência artificial e garantir desenvolvimento econômico para todas e todos”, destacou o senador Jaques Wagner.

Caminho para superar urgência climática

O presidente também abordou os desafios do clima, afirmando que o Brasil sediará a COP-30, em 2025, convicto de que “o multilateralismo é o único caminho para superar a urgência climática”.

Lula lamentou o fato de os gastos militares globais terem crescido pelo nono ano consecutivo e atingirem 2,4 trilhões de dólares. Além disso, mais de 90 bilhões de dólares foram mobilizados com arsenais nucleares.

“Esses recursos poderiam ter sido utilizados para combater a fome e enfrentar a mudança do clima”, criticou o presidente Lula.

O presidente também enfatizou que o planeta tem dado claros sinais da urgência da questão climática, pontuando que o ano de 2024 caminha para ser o mais quente da história moderna.

“Furacões no Caribe, tufões na Ásia, secas e inundações na África e chuvas torrenciais na Europa deixam um rastro de mortes e de destruição. No sul do Brasil tivemos a maior enchente desde 1941. A Amazônia está atravessando a pior estiagem em 45 anos. Incêndios florestais se alastraram pelo país e já devoraram 5 milhões de hectares apenas no mês de agosto. [O planeta] está cansado de metas de redução de emissão de carbono negligenciadas e do auxílio financeiro aos países pobres que não chega” alertou o presidente.

Combate à fome

Tema caro para o presidente Lula e o governo brasileiro, o combate à fome no mundo também foi destaque do pronunciamento de abertura da Assembleia Geral da ONU.

Lula lembrou que, hoje, o mundo produz alimentos mais do que suficientes para promover a erradicação da fome. O que falta, segundo ele, é criar condições de acesso aos alimentos.

“A fome não é resultado apenas de fatores externos. Ela decorre, sobretudo, de escolhas políticas. Este é o compromisso mais urgente do meu governo: acabar com a fome no Brasil, como fizemos em 2014”, enfatizou.

A vice-líder do PT no Senado, Teresa Leitão (PE), destacou o trecho do discurso do presidente Lula sobre a importância da vontade política na superação das mazelas que assolam o planeta.

“O presidente Lula manteve a tradição e fez discurso necessário na Assembleia Geral da ONU. Os desafios do mundo somente serão enfrentados com vontade política. Meio ambiente, promoção da paz, fim da fome e de desigualdades e defesa da democracia são temas que exigem capacidade de negociação e diálogo das principais lideranças do planeta”, destacou a senadora Teresa Leitão.

O senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, apontou que todos os temas abordados pelo presidente Lula durante seu discurso estão conectados, de alguma forma, aos direitos humanos.

“O presidente Lula foi claro em sua fala. Foi um recado aos líderes mundiais, abordando temas essenciais para a sobrevivência do planeta, como a crise climática, o combate à fome, à miséria e à insegurança alimentar, entre outros. Essas questões todas estão conectadas aos direitos humanos, o que torna urgente sua priorização em ações globais e coletivas. Elas são decisões políticas que precisam ser tomadas agora com extrema urgência”, apontou o senador Paulo Paim.

Em Gaza, direito de defesa virou “direito de vingança”

Em relação a paz e segurança, o presidente Lula abordou alguns dos principais conflitos mundiais. Ele afirmou que em Gaza e na Cisjordânia, territórios palestinos, está “uma das maiores crises humanitárias da história recente e que agora se expande perigosamente para o Líbano”.

O líder brasileiro disse que “o que começou como ação terrorista de fanáticos contra civis israelenses inocentes, tornou-se punição coletiva de todo o povo palestino”.

Para Lula, “o direito de defesa transformou-se no direito de vingança, que impede um acordo para a liberação de reféns e adia o cessar-fogo”.

Ao abrir seu discurso, Lula se dirigiu à delegação palestina, lembrando que ela integra pela primeira vez uma sessão de abertura “na condição de membro observador”.

Liberdade é a primeira vítima de um mundo sem regras

Durante o discurso, o presidente Lula também criticou abertamente as plataformas digitais como ferramentas de disseminação do “ódio, a intolerância e o ressentimento”. O presidente afirmou categoricamente que o Estado brasileiro não se intimida com plataformas que “se julgam acima da lei” e conceituou a questão: “A liberdade é a primeira vítima de um mundo sem regras”.

Por: PT no Senado

Foto: Ricardo Stuckert

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