Enquanto o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tenta inutilmente culpar o governo pelo crédito caro e, portanto, escasso para empresas e famílias, o país paga o preço pela desaceleração da atividade produtiva provocada por juros escorchantes, caso do setor imobiliário. Levantamento da Raio-X FipeZap+ revela que, neste primeiro trimestre, 40% dos brasileiros tinham intenção de comprar um imóvel nos próximos três meses. É o menor patamar em três anos. Os dados foram coletados com base na intenção de compra de 1.077 usuários dos portais de venda de imóveis Zap+ e Viva Real entre janeiro e março deste ano.
O cenário reflete o ambiente de desconfiança dos brasileiros em relação às taxas de juros. A Selic, hoje em 13,75%, tem jogado um balde de água fria no sonho da casa própria por causa do custo do financiamento. No mês de março, quando a pesquisa foi concluída, a taxa média para empréstimos com recursos direcionados à compra de imóveis fechou em 11%, o mais alto índice desde 2016.
Do mesmo modo, no ano passado, o preço de venda de imóveis registrou aumento de 6,16%, a maior alta desde 2014, segundo o Índice FipeZap+.
Somada aos juros altos, a queda na renda das famílias dos últimos quatro anos também prejudica a capacidade de pagamento dos trabalhadores. “A redução de liquidez de crédito acaba afetando as vendas”, declarou o coordenador de índices da FipeZap e pesquisador da Fipe, Alison de Oliveira, ao Estado de S. Paulo.
O economista também usou como exemplo dados de compra e venda de imóveis registrados em cartório no estado de São Paulo. Ele aponta que houve queda constante nas intenções de compra desde fevereiro do ano passado. Somente em dezembro de 2022 houve uma queda de 13,4% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Construção civil sente o baque dos juros
Com o mercado imobiliário desaquecido, a construção civil, atividade vital da cadeia produtiva do setor de habitação, inevitavelmente sente o baque dos juros extorsivos de Campos Neto. “O setor da construção civil é o fundamento da retomada econômica pelo investimento em infraestrutura no país”, lembrou o economista Marcio Pochmann, pelo Twitter, ao tomar conhecimento do levantamento da Raio-X FipeZap+.
“Mas com o nível de juros em favor do improdutivo rentismo, o 1° trimestre de 2023 registrou a queda de 40% na intenção de compra de imóveis residenciais, o mais baixo desde 2020”, lamentou o economista.
Estimativa da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC) aponta para uma queda de 30% no financiamento de novas unidades habitacionais no primeiro bimestre de 2023, em comparação ao início do ano passado.
“Nossa preocupação é que essa projeção de 30% de queda seja conservadora. Há possibilidade de que tenha sido maior no fechamento do trimestre”, projetou o presidente da CBIC, José Carlos Martins.
Empresas culpam BC por encolhimento da construção
No mês passado, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou uma pesquisa que revelou como os empresários da construção civil estão preocupados com os efeitos dos juros sobre o setor. De acordo com o levantamento, no primeiro trimestre de 2023, 37% das empresas apontaram a política de sabotagem à economia do BC como responsável pelo encolhimento da construção civil.
O índice representa uma alta de 6,8% em relação ao primeiro trimestre de 2022. Não à toa, a Selic de Campos Neto já aparecia no terceiro trimestre da 2022 como a maior preocupação do setor, ultrapassando até mesmo a carga tributária, outra dor de cabeça dos empresários da construção civil. Não é uma coincidência que o período detectado pela CNI seja o mesmo em que a taxa de juros alcançou os atuais 13,75%, em agosto de 2022.
Da Redação do PT, com informações de Estadão e CNI