Indústria: juros do BC de Bolsonaro amarram crescimento do setor

A cada dia que passa, fica mais claro que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, joga contra o país ao manter a taxa básica de juros da economia (Selic) em 13,75%, a mais alta do mundo e que tem empurrado para baixo os índices da indústria e de outros setores produtivos. Sobram evidências dos efeitos nefastos dessa sabotagem e críticas à atuação do bolsonarista que tem se dedicado a inviabilizar o desenvolvimento nacional. Nesta quinta-feira (25), por exemplo, sua postura voltou a ser condenada pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, durante evento alusivo ao Dia da Indústria.

Gomes criticou as altas taxas da Selic e do juro real vigentes no país – esta última, que desconta a inflação, está em torno de 7%, segundo cálculos dos economistas e analistas do mercado financeiro. O presidente da Fiesp tem um cálculo que coloca o juro real em 8%.

O empresário ressaltou que o câmbio parece estar hoje ajustado, mas o “excesso de juros pagos no país” mantém o risco de sobrevalorização cambial, o que afeta a competitividade dos produtos brasileiros. “Não podemos mais, como sociedade, admitir que se pratiquem esses juros que temos praticado”, enfatizou, acrescentando que já há 30 anos os juros inibem o crescimento e definham a indústria de transformação.

Para o presidente da Fiesp, se a sociedade é contrária aos incentivos dados pelo governo a alguns setores da economia, deveria apoiar a redução da Selic, porque, segundo ele, se o Brasil passar a praticar juros compatíveis com as taxas praticadas no mundo os subsídios perderão a razão de existir.

O executivo, dono da Coteminas, uma das maiores indústrias têxteis do País, afirmou que um país democrático e inclusivo como o Brasil deveria estar unido em torno de um esforço pela recuperação da sua indústria da transformação. Segundo ele, o setor têxtil perdeu, com a adoção do neoliberalismo, a força que tinha na década de 1940, quando o Brasil crescia a taxas de 7% ao ano.

Em determinado momento do discurso, Josué Gomes se dirigiu aos jornalistas presentes ao evento. “Quero me dirigir aqui à imprensa e pedir que abrace a indústria para podermos recuperar a nossa classe média”, disse, enfatizando que a indústria é o setor que mais emprega, agrega valores a seus produtos, paga os melhores salários e abre oportunidades para o primeiro emprego de muitos jovens.

Da mesma forma que o empresário, a presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), voltou a criticar a sabotagem praticada por Campos Neto. Ela abordou o assunto na quarta-feira (24), ao ser perguntada, durante entrevista ao programa Estúdio i, da Globonews, se a aprovação do projeto do arcabouço fiscal na Câmara deveria ser levado em conta pelo bolsonarista do BC para reduzir as taxas de juros.

“Eu, na minha opinião, acho que o Banco Central já deveria ter baixado a taxa de juros independente do arcabouço fiscal. Porque a meta do Banco Central é a questão da inflação e, também, subsidiariamente, a geração de emprego e o desenvolvimento. E o que a gente tem visto é o arrefecimento da inflação no Brasil, o Banco Central acompanha isso, e também porque nós temos taxas de juros exorbitantes, não tem justificativa para ter uma taxa de juros reais de mais de 7% ao ano. Nenhum país tem isso. Nós temos países que têm inflação mais alta e taxa de juros negativa”, disse Gleisi.

“Então, eu acho ruim, acho que o Banco Central induziu a essa desculpa desde o início. Agora, com a apresentação e votação do arcabouço, já era para o presidente do Banco Central, que adora dar declarações públicas, entrevistas, e fazer debates, já ter se posicionado e ter colocado para o mercado e para o país que, sim, que vai trabalhar e que vai baixar as taxas de juros. Isso é importante para a expectativa, para o nosso desenvolvimento, para o investimento privado”, continuou a presidenta do PT.

E as críticas à sabotagem do BC não param por aí. Na terça-feira (23), um grupo de pesos pesados do PIB brasileiro cobrou de Campos Neto a queda dos juros. Ao participar de reunião na casa do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ele ouviu que o atual patamar está sufocando a economia. Em sua defesa, citou os dados recentes de desemprego, que mostraram ligeira alta de 7,9% para 8,8% no 1º trimestre deste ano, para dizer que a atividade econômica não está sendo tão impactada, mas não conseguiu convencer os presentes.

“Ninguém aguenta mais as taxas de juros. O recado foi passado para o presidente do BC. O remédio está matando o paciente“, disse João Camargo, chairman do Grupo Esfera.

Em um seminário do Jornal a Folha de S.Paulo sobre os dois anos de vigência da lei que garantiu a autonomia do Banco Central, na segunda-feira (22), o presidente do Senado declarou que a desvinculação do BC do Ministério da Fazenda foi um avanço. Segundo ele, essa legislação tem o objetivo de blindar o Banco Central de interferências políticas. Pacheco avalia, no entanto, que o BC não pode condicionar a redução dos juros à aprovação de reformas, porque o país tem estabilidade econômica e democrática, além de um Congresso Nacional disposto a votar as medidas necessárias, a exemplo do novo regime fiscal.

“Eu considero a autonomia do Banco Central uma conquista importante em que a autonomia e prevalência da técnica são algo importante para se evitar interferências políticas, por vezes, indesejadas. Mas isso não significa um poder absoluto. O Banco Central tem compromisso com a solidez do sistema financeiro, com a estabilidade da nossa moeda, mas tem também com o bem-estar da população, com o pleno emprego, de modo que é compromisso do Banco Central compreender o momento que estamos vivendo e a necessidade da redução gradativa da taxa básica de juros”, afirmou.

Queda nos investimentos

Um dos diagnósticos mais recentes sobre os efeitos nefastos da política de sabotagem do BC é a pesquisa Sondagem Industrial, divulgada, na semana passada, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ela mostra que, em maio, a intenção de investimento do setor apresentou queda de 0,7 ponto, alcançando 52,9 pontos. Em 2023, o índice, segundo a CNI, apresenta registros alternados de alta e baixa moderados. “No entanto, a queda de maio, 0,7 ponto, foi um pouco mais intensa, e coloca o indicador no menor patamar desde agosto de 2020”, diz o estudo.

“Todos os índices de expectativas recuaram em maio de 2023. O índice de expectativa de número de empregados recuou 0,6 ponto frente a abril, registrando 49,9 pontos. Esse resultado sinaliza para os próximos meses a estabilidade do número de contratações”, destacou a CNI, acrescentando que o índice de expectativa de quantidade exportada apresentou a maior queda mensal: recuo de 2,2 pontos, alcançando 50,2 pontos, praticamente sobre a linha divisória.

Já o índice de expectativa de demanda registrou 53,6 pontos, o que representa queda de 1,5 ponto frente ao mês anterior. Além disso, o índice de expectativa de compras de matérias-primas foi 51,7 pontos, resultado 1,4 ponto menor que em abril.

Ainda segundo a pesquisa da CNI, a produção industrial caiu na passagem de março para abril deste ano – o índice de evolução da produção ficou em 42,6 pontos, abaixo da linha de corte de 50 pontos que separa a queda do crescimento da produção. O índice é 2,2 pontos inferior à média para meses de abril.

De acordo com o estudo, além da produção, o emprego industrial também registrou queda no mês passado. O índice de evolução do número de empregados foi de 48 pontos – 1,5 ponto menor em relação a março. O indicador, de acordo com a CNI, se mantém abaixo da linha de corte desde outubro de 2022, “o que mostra que há seis meses o emprego não cresce de forma disseminada na indústria”.

Da Redação do PT

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