IBGE: população indígena cresce 88% e chega a mais de 1,69 milhão de pessoas

Dados do Censo 2022 do IBGE divulgados ontem (7) mostram que os indígenas no Brasil são hoje mais de 1,69 milhão de pessoas (0,83%), o que representa um grande aumento em relação aos dados da última contagem, realizada em 2010. Naquela época, a população indígena era de 896,9 mil pessoas, o que corresponde a 0,47% do total de residentes no território nacional. As regiões Norte e Nordeste concentram 75% dessa população e cerca de 63% dela vive fora dos territórios. O Censo 2022 revelou ainda um maior número de terras indígenas oficialmente delimitadas, passando de 501 em 2010 para 573 no ano passado.

“Um conjunto de fatores pode ter favorecido para esse aumento de 88% da população indígena, isso é incrível!”, comemorou a ministra dos Povos Indígenas Sônia Guajajara em entrevista à imprensa, na segunda-feira (7). “Que bom que as pessoas que estão na cidade se identificaram como indígenas, porque a gente sabe que o Brasil é um país originariamente indígena e muitas pessoas, por vários fatores, se distanciaram e agora buscam esse resgate. É um momento muito oportuno que as pessoas estão se sentindo muito à vontade para falar que são indígenas, pois houve momentos que elas tiveram que negar sua identidade para não morrer. São resultados muito significativos para nós”, declarou. Guajajara detalhou que o governo federal, a partir do Censo, vai definir com mais assertividade as estratégias para essas populações.

“O Censo vai nos ajudar muito a definir melhor como atender a população indígena e como as políticas públicas do Estado brasileiro vão chegar até eles. São dados que vão subsidiar as nossas ações pois estamos trabalhando de forma totalmente transversal, com ministérios integrados para pensar políticas públicas adequadas que possam chegar nas distintas realidades desses povos, inclusive no combate à violência que continua assolando os povos indígenas dentro e no entorno de seus territórios”, observou a ministra.

Tiago Moreira, pesquisador do Instituto Socioambiental (ISA), que ajudou o IBGE na formação da metodologia para o Censo, concordou com a ministra e declarou que parte do aumento da população pode ser atribuído a um grande movimento de recuperação da identidade indígena, fortalecida nos últimos anos.

“O movimento indígena cresceu muito, tem inovado nas estratégias de mobilização. Nenhum outro movimento social no Brasil é tão capilar, consegue ter uma mobilização tão grande na base social”, disse Moreira ao site BBC Brasil. Para ele, os povos indígenas conseguiram manter sua força apesar das dificuldades enfrentadas nos quatro anos de governo Bolsonaro, abertamente contrário à pauta dos povos originários. “Apesar dos quatro anos de ataque aos direitos, a atuação do movimento indígena teve o efeito de produzir segurança para que a população recupere essa identidade”, ressaltou, ao afirmar que mudanças metodológicas ajudam a explicar o aumento expressivo registrado pelo Censo.

No levantamento de 2022, o IBGE passou a fazer a pergunta “você se considera indígena?” em locais que não são oficialmente terras indígenas, mas onde se sabe que há presença de povos originários, o que fez com que o Censo captasse muito mais pessoas que se consideram indígenas. Antes, segundo o pesquisador, o IBGE fazia a pergunta “qual é sua cor?” e somente registrava como indígena quem respondia à pergunta com a palavra “indígena”.

“Essa diferença acontece porque as pessoas olham muito para a cor da pele quando essa pergunta (qual é sua cor?) é feita. Mas quando você faz a pergunta a mais (se a pessoa se considera indígena), isso abre para uma série de outros critérios de etnia que a pergunta sobre cor não responde”, declarou Moreira ao portal G1.

O IBGE apontou como motivos para o aumento o aperfeiçoamento do mapeamento de localidades indígenas em todo o país, inclusive nas cidades e em áreas remotas; a inserção de procedimentos operacionais padronizados de abordagem às lideranças indígenas; utilização de guias institucionais da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) ou da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai); preparação das equipes regionais e locais da Funai e Sesai para o apoio à operação censitária; incorporação da figura do guia comunitário indígena; treinamento diferenciado das equipes censitárias, além do monitoramento em tempo real da cobertura da coleta censitária e as adaptações metodológicas para facilitar a compreensão do questionário.

Números do Brasil indígena

Segundo o Censo 2022 do IBGE, a maior parte dos indígenas do país (51,25% ou 867,9 mil indígenas) está na Amazônia Legal, região formada pelos estados do Norte, Mato Grosso e parte do Maranhão.

A região Norte tem 44,48% da população indígena do país, com 753.357 pessoas. 31,22% estão no Nordeste (528.800 pessoas). Os dois estados com maior número de pessoas indígenas, Amazonas (490,9 mil) e Bahia (229,1 mil), concentram 42,51% do total. Mato Grosso do Sul tem 116 mil habitantes indígenas, Pernambuco tem 106 mil e Roraima 97 mil.

Manaus é a cidade com maior número de pessoas indígenas, com 71,7 mil. São Gabriel da Cachoeira (AM), tem 48,3 mil habitantes indígenas e Tabatinga (AM) tem 34,5 mil. A Terra Indígena Yanomami (AM/RR) tem maior número de indígenas (27.152), seguida pela Raposa Serra do Sol (RR), com 26.176 habitantes indígenas. Évare I (AM) tem 20.177.

Dos 72,4 milhões domicílios particulares permanentes ocupados do Brasil, 630.041 tem pelo menos um morador indígena (0,87% do total). Dos 630.041 domicílios com pelo menos um morador indígena, 137.256 estão dentro de Terras Indígenas (21,79%) e 492.785 fora de Terras Indígenas (78,21%).

A média de moradores nos domicílios com pelo menos uma pessoa indígena é de 3,64. Dentro das Terras Indígenas 4,6 pessoas e fora das Terras Indígenas, 3,37 pessoas. Em todos os casos, a média é mais alta do que no total de domicílios do país (2,79).

O percentual de moradores indígenas em domicílios particulares permanentes ocupados com pelo menos um morador indígena é de 73,43% para o total Brasil, sendo de 98,41% para os domicílios localizados dentro das Terras Indígenas e de 63,94% fora delas.

Da Redação do PT

 

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