“Governos precisam romper com dissonância entre a voz dos mercados e a voz das ruas”, diz Lula

Em um momento histórico para o Brasil e o mundo, o presidente Lula participou, neste sábado (16), do encerramento da Cúpula do G20 Social, no Rio de Janeiro. Ele recebeu o documento com as deliberações do encontro, resultado de um ano de construção participativa de consensos na sociedade civil, que contou com o envolvimento de movimentos sociais, organizações da sociedade civil e grupos de engajamento. O presidente anunciou que, durante a Cúpula dos Líderes do G20, na segunda-feira (18) e na terça-feira (19), defenderá que a fome passe ser tratada como um assunto político.

“Eu dizia que a gente só ia acabar com a fome o dia que a gente transformasse a fome num assunto político. Enquanto ela for apenas um assunto social, ela não será tratada com respeito. É preciso a gente assumir responsabilidade. E é isso que eu vou tentar fazer ao entregar esse documento para os países que estão aí”, afirmou Lula, idealizador do G20 social, que é inédito na história do G20 – grupo que reúne 19 das maiores economias do mundo mais a União Africana e a União Europeia.

O documento final do encontro pede ambição dos líderes do G20 nos compromissos relacionados aos três pilares da presidência brasileira no grupo – combate à fome, à pobreza e à desigualdade; reforma da governança global; as três dimensões do desenvolvimento sustentável (econômica, social e ambiental). A entrega ao presidente foi feita por representantes da sociedade civil e de movimentos sociais, como a Aliança Internacional de Catadores e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

Para conferir a íntegra o documento, clique aqui.

Lula afirmou que o G20, em razão de sua relevância política e econômica no mundo, tem todas as condições de implementar as ações propostas pela sociedade. “É verdade que os países que estão aí representam 85% do PIB mundial, representam quase 80% do comércio e representam praticamente quase 2 terços da população mundial. Então, a gente pode fazer a diferença, mas se a gente, enquanto dirigente, não assumir, vocês é que têm que fazer a diferença. Gritem, protestem, reivindiquem, porque se não as coisas não acontecem”, disse Lula.

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G20 Social na África do Sul

Dirigindo-se ao ministro das Relações Internacionais da África do Sul, Ronald Lamola, Lula disse ter certeza que o país, cuja presidência no G20 se iniciará em 1º de dezembro, dará continuidade ao G20 Social.

“Eu tenho certeza que o presidente [Cyril]Ramaphosa vai fazer um fórum social do G20 na África do Sul, e eu espero estar presente para participar do social e participar do G20 oficial. O que é importante é que este é um momento histórico para mim e um momento histórico para o G20. Ao longo deste ano, o grupo ganhou um terceiro pilar que se somou aos pilares político e financeiro: o pilar social, construído por vocês”, disse Lula, acrescentando que o G20 Social deu “forma à expressão e vontade coletiva, motivada pela busca de um mundo mais democrático, mais justo e mais diverso”.

O presidente ressaltou que, durante o evento, os 13 grupos de engajamento puderem interagir com os chanceleres e com os ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais das maiores economias do planeta. “Tive a satisfação de dialogar pessoalmente com os representantes de cada grupo. Nos últimos dias, pela primeira vez na trajetória do G20, a sociedade civil de várias partes do mundo, em suas mais diversas formas de organização, se reuniu para formular e apresentar suas demandas à Cúpula de Líderes”, sublinhou.

Lula lembrou que, nos últimos 16 anos, desde a primeira cúpula, o G20 se consolidou como o principal fórum de cooperação econômica mundial e como importante espaço de. concertação política. Observou, no entanto, que “a economia e a política internacional não são monopólio de especialistas e nem de burocratas, não estão só nos escritórios da bolsa de Nova York ou na bolsa de São Paulo, nem só nos gabinetes de Washington, Pequim, Bruxelas ou Brasília”.

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Segundo o presidente, a economia e a política internacional “fazem parte do dia a dia de cada um de nós, alargando ou estreitando as nossas possibilidades. Os membros do G20 têm o poder e a responsabilidade de fazer a diferença para muita gente”.

“Para as mulheres, ao fomentar o empreendedorismo e a autonomia econômica feminina, como fez o grupo de trabalho sobre empoderamento. Para desenvolver os produtos da biodiversidade, como foi a iniciativa sobre a bioeconomia. Para os afrodescendentes, ao adotar o objetivo de desenvolvimento sustentável 18, sobre igualdade racial, como fez o grupo de trabalho sobre desenvolvimento. Para o planeta, ao incentivar a ambição climática em linha com o objetivo de limitar o aquecimento global a um grau e meio, como fez a força tarefa do clima”, afirmou o presidente.

“Nada disso teria sido possível sem a contribuição de todos vocês que estão aqui hoje. A presidência brasileira não teria avançado nas três prioridades que escolheu se não fosse a participação decisiva das organizações e movimentos que integram o G20 Social”, disse.

Lula fez uma convocação: “A mobilização permanente de vocês será fundamental para impulsionar o trabalho da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e avançar a tributação dos super-ricos”.

O presidente disse que para levar adiante o chamado à ação pela reforma da governança global, assegurando instituições multilaterais mais representativas, “a presidência brasileira do G20 deixará um legado robusto de realizações, mas ainda há muito por fazer para melhorar a vida das pessoas. Para chegar ao coração dos cidadãos comuns, os governos precisam romper com a dissonância cada vez maior entre a voz dos mercados e a voz das ruas”.

Ouça o discurso do presidente Lula pela Rádio PT:

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Jornada de trabalho

Ao afirmar que “o neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias”, Lula afirmou que o G20 precisa discutir uma série de medidas para reduzir o custo de vida e promover jornada de trabalho mais equilibrada.

“Vou levar as recomendações contidas na declaração final que vocês me entregaram aos demais líderes do G20 e trabalhar com a África do Sul para que elas sejam consideradas nas discussões do grupo. Espero que esse pilar social do G20 continue nos próximos anos, abrindo cada vez mais nossas discussões para o engajamento da cidadania”, disse o presidente.

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Mobilização tem que continuar

Lula acrescentou que a cerimônia de encerramento do evento “marca o começo de uma nova etapa que exigirá um trabalho contínuo durante os 365 dias do ano”. “Esse foro social do G20, ele não pode parar aqui. Vocês não estão fazendo o encerramento do foro social. Vocês estão fazendo a abertura de uma luta que vocês vão ter que dar sequência durante 365 dias por ano. Isso aqui é apenas o começo. Não espere a África do Sul pra gente fazer uma nova reunião”, enfatizou.

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Mais de 50 mil participantes

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, iniciou o discurso destacando os números do G20 Social: 47,9 mil pessoas inscritas e 17 mil participando ativamente dos debates. “Exatamente, presidente, mais de cinquenta mil pessoas transitaram no Boulevard e no território do G20 Social, entre a Praça Mauá e o Boulevard”, sublinhou.

Macêdo cumprimentou o presidente Lula por lançar uma iniciativa que deixará um legado histórico para o Brasil e o mundo: “Isso aqui já está falando por si só, mas eu quero apenas dizer muito brevemente que o homem e a mulher sonham, Deus permite, e a obra nasce. O presidente Lula sonhou, nós sonhamos conjuntamente, e a obra do G20 social nasceu e veio pra ficar”.

O ministro acrescentou que o desejo do governo brasileiro é que o próximo G20, na África do Sul, “seja maior e melhor do que foi o G20 Social brasileiro”.

“Me despedirei vocês dizendo muito obrigado Brasil, muito obrigado a todos os movimentos sociais organizados do Brasil e dos países do G20. O que vocês fizeram aqui foi escrever um capítulo importante da história do nosso país e do mundo. Muito obrigado, presidente Lula, por ter a honra de lutar ao seu lado, seja na luta para a construção da sua liberdade, seja na luta para a construção de ajudar o senhor a mudar o Brasil para melhor e a mudar a nossa gente”, afirmou.

Encontro com secretário-geral da ONU

Horas antes da cerimônia de encerramento do G20 Social, Lula se encontrou com o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres. “Falei ao secretário-geral da ONU, António Guterres, que vamos dialogar com as próximas sedes do G20 para que adotem como prática a realização do G20 Social, ouvindo as demandas dos movimentos sociais e da sociedade civil”, disse o presidente em uma postagem na rede social X.

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Fonte: Redação PT

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