Documento organizado pela ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, rebate Temer e mídia corporativa e relembra trama que levou ao impeachment fraudulento da ex-presidenta
Mais de duas mil brasileiras, entre elas, ex-ministras de Dilma Rousseff, artistas, intelectuais e lideranças políticas, assinaram um manifesto para reafirmar que a ex-presidenta sofreu um golpe há pouco mais de seis anos. O documento, organizado pela ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, relembra a trajetória de acontecimentos e os atores que forjaram o impeachment fraudulento contra Dilma, para rebater Michel Temer, o usurpador, e boa parte da mídia corporativa e sua narrativa de que não houve uma ruptura institucional.
O manifesto aponta ainda para as trágicas consequências advindas do golpe para o país e a população. “Esse golpe fundamentou-se em ideário expresso nas reformas liberalizantes que se seguiram as quais, sem entregar o prometido, impactaram negativamente as instituições públicas, os direitos sociais arduamente conquistados, o mundo do trabalho, a classe trabalhadora, a vida das mulheres, sobretudo das negras, a sociedade brasileira, aprofundando as históricas desigualdades sociais que vinham sendo superadas por medidas e políticas públicas adequadas que os governos do PT buscavam constituir”, destaca o texto do manifesto. A carta lembra também o histórico e profético discurso de Dilma no dia quem foi afastada, quando olhou para cada um de seus algozes e escancarou os riscos de sua saída ao país: “… O golpe não foi cometido apenas contra mim e contra o meu partido. Isto foi apenas o começo. O golpe vai atingir indistintamente qualquer organização política progressista e democrática”, apontou, antes de vaticinar: “Nós voltaremos”.
Leia abaixo a íntegra do documento.
Mulheres reafirmam: houve golpe contra a Presidenta Dilma Rousseff
Há seis anos, um golpe urdido por forças externas e internas a este Brasil de resilientes heranças patriarcais e escravocratas, sem qualquer crime cometido e, muito menos, comprovado, o Senado Federal aprovou o chamado “impeachment” da primeira mulher eleita e reeleita presidenta do país, Dilma Rousseff. Golpe institucional que, apoiado por forças econômicas e políticas, pela mídia oficial e por certas elites “semi-ilustradas” que difundem a ideia de que o processo de globalização e suas consequências são inexoráveis, envolveu o Parlamento e o próprio Sistema de Justiça, sendo marco fundamental para a retomada do processo liberalizante que vinha sendo resistido, propiciando que interesses privados passassem a subjugar o sentido do público.
Esse golpe fundamentou-se em ideário expresso nas reformas liberalizantes que se seguiram as quais, sem entregar o prometido, impactaram negativamente as instituições públicas, os direitos sociais arduamente conquistados, o mundo do trabalho, a classe trabalhadora, a vida das mulheres, sobretudo das negras, a sociedade brasileira, aprofundando as históricas desigualdades sociais que vinham sendo superadas por medidas e políticas públicas adequadas que os governos do PT buscavam constituir.
Naquele mesmo dia, em pronunciamento histórico, a Presidenta Dilma denunciou essa trama urdida contra a soberania popular, contra o país, a população brasileira, a democracia. Seu discurso hoje soa como uma profecia. “Acabam de derrubar a primeira mulher presidenta do Brasil, sem que haja qualquer justificativa constitucional para este impeachment. Mas o golpe não foi cometido apenas contra mim e contra o meu partido. Isto foi apenas o começo. O golpe vai atingir indistintamente qualquer organização política progressista e democrática.” E finalizou com ênfase: Voltaremos.
Os dados econômicos e do mundo do trabalho evidenciam a correção de sua profecia. O ataque aos movimentos sociais e sindicais, aos direitos constitucionais e trabalhistas, à vida digna, à aposentadoria, à saúde, à educação, à moradia, à cultura, ao desenvolvimento sustentável, ao meio ambiente, às liberdades de credo, às relações sociais em suas múltiplas expressões, às subjetividades, às mulheres, aos negros e negras, aos povos originários, à comunidade LGBT Qi+, foi de tal ordem que a população reagiu e a profecia se concretizou: Voltamos.
E justo quando, pela via do processo eleitoral democrático, a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva foi consagrada, possibilitando que se retome a caminhada interrompida rumo a uma sociedade justa e igualitária, com direitos e garantias amplamente assegurados, com um Estado que recupere seu papel de coordenador e construtor de políticas públicas integradoras, é que, pasmem, um dos grandes artífices do golpe, o então vice-presidente Michel Temer, acompanhado por vozes ressentidas, equivocadas ou, mesmo, golpistas, vem a público dizer: não foi golpe .
Diante disso, nós mulheres, que constituímos a maioria da população do país, destacando estarem vivas nesse golpe nossas heranças patriarcais e a misoginia, cá estamos para, em uníssono, bradar: foi golpe, um golpe institucional/ parlamentar, misógino, de graves proporções e que se expressou nas reformas que se seguiram, entre elas; a Emenda 95 que congelou o teto do gasto público por vinte anos; a reforma trabalhista de 2017 que, contrariamente ao prometido, aprofundou as históricas assimetrias de um mercado de trabalho constituído sob o signo da exclusão; a da Previdência, restringindo o acesso à aposentadoria; a destruição dos programas de moradia e dos programas para as mulheres; o corte das políticas à saúde e a redução de recursos ao SUS, entre outras atrocidades. E, reproduzindo o discurso da Presidenta Dilma, reafirmamos: Voltamos e voltamos para afirmar às gerações futuras que “Nada nos fará recuar.”
São Paulo, 29 de janeiro de 2023
Fonte: Site PT