“Elas ficam”: campanha nacional defende as seis deputadas que enfrentam pedido de cassação

Sob gritos de “elas ficam“, na tarde desta terça-feira (4), foi realizado na entrada do Anexo II da Câmara dos Deputados, o lançamento da Campanha Nacional contra Violência Política de Gênero e Raça. Participaram mulheres de diversos movimentos populares da sociedade civil.

O ato, encabeçado pela  Frente Parlamentar Feminista e Antirracista com Participação Popular, busca dar visibilidade nacional aos pedidos de cassação que foram abertos pela Comissão de Ética daquela Casa contra as seis deputadas federais de esquerda Érika Kokay (PT-DF), Juliana Cardoso (PT-SP), Célia Xakriabá (PSOL-MG), Fernanda Melchionna (PSOL-RS), Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e Talíria Petrone (PSOL-RJ).

A deputada federal (PT-SP) Juliana Cardoso agradeceu às mulheres que participaram da atividade. Ela e a deputada do Psol, Talíria Petrone, enfrentam, cada uma, dois processos da Comissão de Ética. “Esse ato para mim é como se fosse um abraço solidário de força para avançarmos na caminhada e na luta contra a violência política de gênero. Vamos ter que caminhar muito juntas, temos que nos manter mobilizadas e unidas

O que eles querem mesmo, de verdade, é cassar os nossos mandatos, nos calar. Porém, como eles sabem que somos mais de um milhão de votos, somados aos das outras mulheres eleitas, eles não vão nos silenciar ou nos tirar daqui com tanta facilidade”, afirmou. Os processos deverão ser votados logo após o recesso parlamentar.

Segundo a parlamentar, a estratégia que tem sido aventada nos corredores do Parlamento é uma suspensão do mandato de três a seis meses, sem salário, sem gabinete: “Isso significa ficarmos sem legislar, sem ter voz para a gente poder atuar nas nossas comunidades e movimentos. O que temos solicitado é para que arquivem esses pedidos de cassação”, revelou.

Ainda de acordo com Cardoso, o ato desta terça “é a continuidade de uma luta que temos que denunciar para todo o mundo, porque nos silenciar agora é silenciar também as vereadoras e deputadas estaduais que estão sofrendo com perseguições nos estados e municípios. Não vamos nos calar e vamos avançar junto de vocês para denunciar tudo isso. A nossa melhor chance é colocar isso para o mundo porque aí eles vão ter medo, além de denunciá-los como misóginos que praticam a violência política de gênero“, encerrou.

Para a petista Maria do Rosário, deputada federal pelo Rio Grande do Sul, o processo está eivado de muitos erros, está de má-fé: “Ao ingressar desta forma, a denúncia que o PL fez, ela revelou exatamente o seu objetivo, que é atacar as mulheres deste plenário. Através do nome destas companheiras, nós devemos conceber que os mandatos exercidos por mulheres que se posicionam, que apresentam as suas ideias, que lutam por causas, são importantes para o povo brasileiro. É muito grave ameaçar um mandato popular”, alertou.

A deputada federal do PT do Distrito Federal, Érika Kokay, também esteve presente no ato. Ela reforçou o discurso das demais companheiras de que o pedido de cassação representa uma violação aos mandatos das seis deputadas: “É uma violência política de gênero que vai se representar na sub-representação feminina nesta Casa, mas também vai se expressar na tentativa cotidiana  de tentar nos calar. As mulheres têm como própria essência a coragem, por isso eles não vão nos calar.”

Para Guacira César de Oliveira que integra o Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), organização feminista, o engajamento dos movimentos de mulheres, das mulheres ativistas na luta contra a cassação das deputadas é um ato de defesa da democracia.

“Gastamos séculos para trazer as mulheres para o parlamento, como as negras, as indígenas e ainda assim o Brasil figura entre os países com as menores taxas de participação feminina nos espaços de poder, e é isso que esses caras que são contra a democracia, querem uma democracia só para eles e isso não existe. A ameaça de cassação do mandato dessas parlamentares é uma violação da democracia”, afirmou.

Da Redação do Elas por Elas

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