É preciso construir palanques amplos para Lula

Nos últimos dias, têm surgido avaliações dos riscos que corremos de ter Jair Bolsonaro eleito, seja por sua descarada e ilegal ação governamental eleitoreira ou por sua suposta resiliência em manter 30% de eleitores cativos. Não vejo esse risco, ainda que não se deva subestimar um candidato que usa e abusa da máquina administrativa e do poder econômico que a Presidência da República dá ao candidato à reeleição, nem seu eleitorado conservador e religioso, bolsonarista de raiz e antipetista.

Apesar disso, é bom lembrar que da mesma forma que o eleitor brasileiro já elegeu Jânio Quadros, Collor e Bolsonaro, também deu 4 mandatos seguidos ao PT e seus aliados. Mesmo depois do massacre jurídico e midiático que sofremos de 2013 em diante, 32 milhões de eleitores votaram no 1º turno em Haddad e quase 43 milhões em Haddad, Ciro e Boulos.

Numa eleição, como sabemos, contam fatores externos –desta vez é a guerra da Ucrânia–, mas o que pesa decisivamente são os fatores internos: a situação real da economia, do emprego e da renda. Estão na nossa memória os efeitos nas eleições do Plano Cruzado e, depois, do Plano Real.

Na campanha atual, o que conta, até agora, é a rejeição e reprovação do presidente e de seu governo por uma maioria dos cidadãos e cidadãs eleitores. Outro fator que se destaca é a debilidade extrema dos partidos da direita liberal não-bolsonarista, ainda que cúmplices de sua eleição e política econômica.

A força eleitoral de Lula e do PT nos assegura afirmar que estaremos no 2º turno –e tudo indica que com Bolsonaro. Apesar de todo o massacre sofrido, da prisão ilegal e injusta de Lula que ontem completou 4 anos –ele foi submetido a um processo político, sumário e de exceção–, o PT se manteve, em 2018, como maior bancada na Câmara dos Deputados e quase empatou em votos com o PSL. Elegeu governadores em Estados importantes do Nordeste, que são hoje base eleitoral estratégica para a eleição de Lula.

Já Bolsonaro mantém-se estável nos 30% de votos no 2º turno, perde no Nordeste e no Sudeste, e empata com Lula em São Paulo onde, em 2018, colocou 7 milhões de votos na frente de Haddad. Lula caminha para empatar com Bolsonaro no Norte, já empata no Centro-Oeste e, no Sul, tem mais de 30% dos votos.

Só para dar um exemplo da fragilidade de Bolsonaro no 2º turno: na França, a candidata da extrema-direita Le Pen chega a 48,5% nas pesquisas, saindo dos 22% que alcança no 1º turno. Situação radicalmente oposta à de Bolsonaro que quase não cresce nas pesquisas do 1º para o 2º turno.

Lula, por sua vez, não cai e se mantém no patamar mais alto que já alcançou (44%) no 2º turno na pesquisa XP/Ipespe. Nesta simulação, são 14 pontos percentuais de diferença pró-Lula, lembrando que essa diferença já foi de 4 pontos pró-Bolsonaro na 1ª pesquisa da série em dezembro de 2019.

Aqueles que não votariam de jeito nenhum em Bolsonaro se mantêm em 61%. Esse percentual está acima de 60% desde julho de 2021.

A certeza de voto em Lula se mantém acima de 40% desde novembro de 2021 e, na pesquisa desta semana, está em 44%, mesmo percentual de intenção da pesquisa estimulada. Já a certeza de voto em Bolsonaro é de 29%. A certeza de voto em Lula é de 40%, enquanto em Bolsonaro é de 32%.

Na simulação de 2º turno Lula x Bolsonaro, Lula, nas 6 sondagens deste ano, varia entre 53% e 54% o que demonstra estabilidade e Bolsonaro varia entre 30% e 33%, também estável. A diferença se mantém em 20 pontos percentuais. Lembrando que com rejeição acima de 60%, desde julho de 2021, mesmo num 2º turno, Bolsonaro teria um teto de 39%.

Alianças
Não é demais repetir que é o conjunto da obra que leva o atual presidente a não ter apoio de mais de um terço dos votos e ter uma rejeição maior ainda entre os eleitores jovens, as mulheres e os trabalhadores com renda até dois salários mínimos. E não há, no horizonte, melhora na economia que possa mudar este cenário.

Outro fator de peso é que uma parcela importante do eleitorado vê Bolsonaro como uma ameaça à democracia, à liberdade e ao próprio país e seu futuro. Mesmo que parte desse contigente não seja eleitor de Lula nem de partidos de esquerda, estão dispostos a votar nele para superar o bolsonarismo e seu caráter autoritário, conservador, obscurantista e fundamentalista.

Já escrevi aqui e repito: eleição se ganha ou perde na campanha e na disputa politica. Temos menos de 6 meses para 2 de outubro. Assim o fundamental, agora, é construir um arco de alianças que atenda à expectativa do eleitorado que vota em Lula ou poderá vir a apoiá-lo. É isso que justifica se ter Geraldo Alckmin na vice-presidência e a construção de palanques amplos no Nordeste, desconstruindo os palanques de Bolsonaro.

São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, ao lado do Nordeste, são fundamentais para uma vitória segura e ampla. Nesses territórios será preciso construir palanques para Lula até com mais de uma candidatura em nosso campo, quando não for possível uma candidatura de consenso.

Mas eleição é disputa política e de imagem, das mentes e corações. E, nisto, Bolsonaro e a extrema-direita são experientes, sabem usar muito bem as redes sociais, explorar o preconceito e a religiosidade cristã de nosso povo. Portanto, todo cuidado é pouco com temas como família, religião, Brasil, pátria.

É claro que não devemos nos submeter à visão de mundo e da vida que a extrema direita quer nos impor -um mundo de intolerância e preconceito, racista e machista, homofônico. E muito menos à sua pregação do ódio e violência, antidemocrática e autoritária. Temos que combater suas ameaças ao processo eleitoral e suas bravatas milicianas. Mas temos sempre que compreender e respeitar a diversidade política e ideológica de nosso povo sem abrirmos mão de nossas propostas.

Derrotar o bolsonarismo
Devemos expor à sociedade o que é Bolsonaro e o bolsonarismo, partindo do princípio de que sempre haverá uma parcela importante de nosso povo que o apoiará. O importante é centrar a campanha em nosso eleitorado histórico e buscar ampliá-lo em direção ao centro democrático como estamos fazendo.

Nada mais grave que os sinais de divisão no nosso meio. Erros e impasses, situações novas e desafios sempre existirão nas campanhas. É por isso precisamos ter pronta capacidade de resposta ou de correção de rumos, a partir de três eixos: unidade, organização e profissionalismo.

Nos dias de hoje, subestimar o adversário ou conduzir uma campanha com amadorismo, desconhecendo as lições de campanhas passadas, vitoriosas ou não, é meio caminho, senão para a derrota, para a perda de terreno para o adversário. Não podemos nos dar a luxo de tirar o ânimo de nossa militância, nem de empurrar para do eleitorado de centro para o colo do adversário.

A prioridade é pôr ordem na casa e retomar a palavra de ordem prioritária, ou seja, derrotar o bolsonarismo. Ela tem que orientar os nossos discursos e a nossa atuação nas redes e nas ruas.

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