A Diretora Socioambiental do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Tereza Campello, alertou que a economia brasileira não alcançará um crescimento sustentável enquanto persistirem diversas formas de desigualdade social no país. Ela abordou o assunto nesta segunda-feira (22), durante entrevista ao Jornal PT Brasil, ao anunciar a realização do Seminário Empoderamento Negro para Transformação da Economia, que acontecerá nesta terça-feira (23), na sede do banco, no Rio de Janeiro.
O seminário, uma parceria entre o BNDES e a Open Society Foudations, celebra o Dia Mundial da África e vai discutir os impactos positivos da diversidade étnico-racial nos setores financeiro e empresarial brasileiros. É uma continuidade dos debates pela promoção do desenvolvimento sustentável, iniciados em março, no evento Estratégias de Desenvolvimento Sustentável para o Século XXI.
Durante os painéis, especialistas brasileiros e internacionais abordarão a experiência da África do Sul, chamada Black Economic Empowerment, além de caminhos para ampliar a diversidade nos setores financeiro e empresarial no Brasil. O seminário vai das 9h às 18h30, com transmissão pelo canal do BNDES no YouTube.
Durante a entrevista ao Jornal PT Brasil, Tereza Campello destacou a importância dessa discussão. “Eu tenho falado muito isso. Lembrando a professora Maria da Conceição Tavares, o Brasil cresce, cresce, bate no teto e cai; cresce um pouquinho, bate no teto e cai. Ela chamava isso de voo da galinha, e o Brasil não sai desse voo da galinha. Na minha avaliação, um desses obstáculos ao desenvolvimento sustentável, esse teto é também dado pelo nível de desigualdade que o Brasil vive. A questão do empoderamento da população negra para transformar a economia não é só uma questão de justiça social, é também uma questão de desenvolvimento sustentável”, disse Tereza Campello.
“O Brasil só vai crescer de forma sustentável, só vai superar essas amarras, que nos deixam presos ao passado, quando nós conseguirmos enfrentar o nível abissal de desigualdade que o Brasil tem, em especial do ponto de vista da população negra. Essa inclusão é importante não só para a população negra, ela é importante para todo o país. Esse é um debate salutar e importante que tem que ser compreendido pelo conjunto da sociedade”, destacou.
Tereza Campello afirmou que o seminário reflete o esforço do banco para retomar o papel que desempenhou ao longo de seus 71 anos de história. “O BNDES sempre cumpriu um papel, em diferentes momentos, em diferentes governos, tanto como promotor do desenvolvimento, fomentador do desenvolvimento, mas também como promotor do debate sobre os rumos que o Brasil deveria seguir com relação ao desenvolvimento. No período do governo Bolsonaro, esses dois papéis foram praticamente aniquilados. De um lado, o banco veio sendo desidratado, e, de outro lado, ele deixou de contribuir, em qualquer sentido, com o debate sobre os rumos que o país deveria seguir. Nós estamos retomando”, frisou a diretora. “Queremos um desenvolvimento que seja inclusivo, inclusive do ponto de vista étnico-racial, o debate sobre inclusão de gênero”.
Tereza Campello explicou que o BNDES não pretende discutir apenas a questão da reparação histórica às pessoas negras, hoje 57% da população brasileira, mas os efeitos de sua inclusão no desenvolvimento do país. “Quando a gente olha qualquer indicador, eles são a maioria dos pobres, a maioria dos excluídos, a maioria dos que não têm carteira assinada, a maioria dos que não participam do consumo, que não tem acesso à educação, que não têm acesso à saúde. Portanto, como transformar a sociedade e como transformar a economia. Esse é o debate que estamos querendo fazer amanhã. Sem enfrentar essas desigualdades, o Brasil não conseguirá garantir um desenvolvimento sustentável”, sublinhou.
Segundo a gestora, o BNDES tem trabalhado para promover a inclusão de profissionais negros em seu quadro funcional e pretende não apenas ser indutor desse processo, com sua própria experiência, mas também usar “o conjunto de ferramentas de indicadores nos processos de oferta de crédito para induzir boas práticas, para induzir que se acelere esse processo”. Ela detalhou que “o seminário terá presença de grandes empresários brasileiros que têm implementado, nas suas empresas, experiências importantes e estamos trazendo também o banco sul-africano que tem experiências com essa agenda, trazendo a experiência sul-africana de como garantir um processo acelerado de inclusão da população negra nos seus quadros funcionais e nos quadros de liderança dos diretores”.
Tereza Campello frisou que a prioridade é que “o processo de inclusão se dê, inclusive, nos níveis de decisão das empresas, aqui no banco e nos outros bancos, em outros estabelecimentos no Brasil. É assim que a gente vai transformar o país. O BNDES quer dar o exemplo”.
Ela observou que “o ritmo que vem sendo implementado, no Brasil, para a maior inclusão da população negra é absolutamente insuficiente para dar conta da urgência que a gente tem de mudar o perfil da sociedade brasileira. Então, de certa forma, o que o seminário quer fazer é exatamente discutir quais são esses aceleradores, quais são esses mecanismos”.
“Tem um conjunto de mecanismos que têm a ver com a ação da política pública, como por exemplo, as cotas nas universidades. A gente tem, em dez anos, praticamente uma mudança no perfil dos estudantes nas universidades públicas, o que é fantástico”, disse Tereza Campello. “Nós conseguimos implementar essas mudanças, mas nós temos que fazer isso também no ambiente de negócios, nas empresas, nos bancos. É preciso acelerar esse processo, nós só vamos fazer isso com ações afirmativas, não será naturalmente, e muito menos com um debate de meritocracia, que interdita a discussão. O debate de meritocracia é impossível, porque as pessoas tiveram acesso completamente desigual no ensino básico, no ensino fundamental, no acesso à universidade, no conjunto de outras vantagens, e as pessoas estão querendo discutir a meritocracia”, afirmou.
A diretora do BNDES acrescentou que “nós queremos ações afirmativas que permitam que a gente supere a tragédia social que é a exclusão. Os negros são 74% dos pobres, o que mostra claramente um processo de exclusão”.
Da Redação do PT