O depoimento do hacker Walter Delgatti, nesta quinta-feira (17), na CPMI do Golpe, mostrou que o ex-presidente Jair Bolsonaro atuou diretamente na tentativa de um golpe de Estado no Brasil. De forma convincente e amparado por várias provas, Delgatti revelou que:
1) A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), “por ordem do ex-presidente Jair Bolsonaro”, lhe pediu para que ele tentasse fraudar o sistema de votação brasileiro;
2) Que, durante um telefonema providenciado por Zambelli, Bolsonaro lhe pediu diretamente para assumir a autoria de um suposto grampo contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF);
3) Que o marqueteiro de Bolsonaro, Duda Lima, em 9 de agosto do ano passado, e o próprio Bolsonaro, no dia seguinte, no Palácio da Alvorada, lhe pediram para participar de uma fake news contra as eleições.
A ideia era o hacker gravar um vídeo no qual ele adulteraria uma urna eletrônica com um código falso para convencer as pessoas de que aquela era uma prova da vulnerabilidade das urnas. O vídeo seria exibido no 7 de Setembro e só não foi concretizado porque a imprensa descobriu e noticiou o encontro de Delgatti com Bolsonaro;
4) Que Bolsonaro ordenou que o hacker fosse recebido pelo então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e por técnicos do ministério para ajudar na elaboração de um relatório que deveria contestar a segurança das urnas eletrônicas;
5) Que Bolsonaro lhe deu permissão expressa para cometer ilegalidades e prometeu livrá-lo por meio de um indulto presidencial caso fosse preso. Na conversa por telefone, Bolsonaro chegou a dizer, segundo Delgatti: “Se caso alguém te prender, eu mando prender o juiz”.
6) Que, a pedido de Zambelli, ele invadiu a intranet do Conselho Nacional de Justiça e de outros órgãos do Judiciário e inseriu um falso mandato de prisão contra Moraes, numa tentativa de convencer os eleitores de que aquela era uma prova da vulnerabilidade do sistema eleitoral;
7) Que a pedido de Zambelli, ele tentou invadir o telefone celular de Alexandre de Moraes;
8) E que, a todo tempo, interpretou que os pedidos feitos por Zambelli eram de conhecimento de Bolsonaro e atendiam a um desejo do ex-presidente.
“Prisão de Bolsonaro está próxima”
Diante de tantas revelações escandalosas, integrantes da CPMI do Golpe ficaram convencidos de que Bolsonaro deve ser preso por ter participado de uma tentativa de golpe no Brasil.
“Nós escapulimos de um golpe de Estado por muito pouco”, afirmou o deputado federal Rogério Correia (PT-MG), antes de chamar a atenção para os efeitos nefastos que a divulgação da fake news do hacker com uma urna eletrônica poderia causar.
“Imagina a convulsão social que isso daria no setor do eleitorado”, assinalou Correia. “Eu não duvido, diante de tudo que está acontecendo agora, as contas do Mauro Cid, os telefones do Wasseff confiscados ontem pela Polícia Federal, as prisões de hoje por causa da Festa da Selma, eu realmente acho que a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro está próxima”.
O líder do PT no Senado, Fabiano Contarato (ES), acrescentou que Bolsonaro não deve mais ser visto apenas como mentor intelectual, mas como coautor da tentativa de golpe.
“O ex-presidente, eu digo a vocês, é coautor desses crimes: tentar com emprego de violência ou grave ameaça abolir o Estado democrático, tentar depor por meio de violência ou grave ameaça governo legitimamente constituído. Com esse depoimento e tudo que já foi coletado, as provas são contundentes”, afirmou Contarato, acrescentando esperar a prisão imediata do ex-presidente.
Processo golpista
Para os parlamentares, o depoimento do hacker confirma que o 8 de Janeiro foi resultado de um longo processo golpista pensado e articulado por Bolsonaro e seus vários cúmplices (acesse aqui a Linha do Tempo do Golpe). E um elemento central desse processo era o de convencer parte do eleitorado de que uma eventual derrota do ex-presidente seria fruto de fraude eleitoral (veja aqui as narrativas que levaram ao 8 de Janeiro).
“(Sempre dissemos que) o que houve foi uma tentativa de golpe de Estado, inclusive com atos preparatórios. O desenrolar da investigação confirma a tese da tentativa de golpe. Quanto mais a gente investiga, mais a gente percebe que essa tentativa de golpe aconteceu nas mais variadas esferas”, ressaltou o deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA).
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) lembrou que Bolsonaro realizou um ataque sistemático às urnas como forma de levantar suspeitas sobre as eleições. “O que está sendo revelado aqui mostra, com muita clareza, tudo que foi programado”, salientou, logo após pedir proteção à vida de Walter Delgatti.
Carvalho alertou ainda que a extrema direita dá sinais de que não desistiu dos ataques à democracia. “É só olhar o que o Trump está fazendo nos Estados Unidos, que continua questionando a democracia e as instituições. Esse foi um ataque e precisamos ficar atentos porque outros virão.”
Da Redação do PT