CPMI do Golpe: fake news bolsonarista do “fotógrafo infiltrado” é desmoralizada

O depoimento do repórter fotográfico Adriano Machado à CPMI do Golpe, nesta terça-feira (15), representou mais um vexame para os bolsonaristas, que, ao convocá-lo, esperava obter elementos para alimentar mais uma das fake news que espalham sobre o 8 de Janeiro.

O que aconteceu, no entanto, foi justamente o contrário. Sem recorrer a habeas corpus e respondendo a todos os questionamentos de forma segura, o fotógrafo da agência Reuters desmontou a tese amalucada de que ele seria um petista infiltrado que estava ali para ajudar numa encenação de ataque ao Palácio do Planalto.

A humilhação foi tanta que quase nenhum parlamentar bolsonarista voltou à reunião após o intervalo do almoço. “Hoje a oposição está desnorteada. E sabe por quê? Porque hoje aconteceu a queda de uma das mais importantes fake news do discurso bolsonarista”, afirmou o deputado federal Rubens Pereira Júnior (PT-MA).

“A fake news dizia que um fotógrafo petista, amigo pessoal do Lula, que estava ligando para o Lula durante os atos, tinha ensaiado com o pessoal ‘ei, chuta a porta de novo, quebra de novo, derruba o relógio’. Só que a fake news não resiste à realidade”, completou o deputado, salientando que uma mentira muito parecida foi inventada pela extrema direita norte-americana após o ataque ao Capitólio, nos Estados Unidos.

Para desmontar essa fake news, Adriano Machado só precisou dizer a verdade. Nunca foi filiado ao PT nem a qualquer outro partido político, só falou ao telefone com seus chefes e não agiu em nenhum momento como infiltrado, pois usou todas as identificações possíveis de que estava ali a serviço da agência de notícias Reuters, inclusive um capacete no qual se lia a palavra Imprensa.

“Chegaram a dizer que iam me jogar lá de cima” 

O profissional também desmontou a tese — igualmente absurda — de que os manifestantes eram pessoas pacíficas. Contou que, por diversas vezes foi hostilizado e ameaçado, sendo que um bolsonarista chegou a ameaçá-lo com uma arma de choque elétrico.

“Chegaram a dizer que iam me jogar lá de cima (do terceiro andar do Palácio do Planalto), que se eu não saísse de lá iam me bater, vigiavam o tempo todo. Inclusive, teve uma hora em que uma pessoa veio com esses tasers de choque para que eu descesse a rampa. Então, foi muito tenso”, contou.

Machado também explicou uma das cenas mais exploradas pelos bolsonaristas na fabricação da fake news (o momento em que foi abordado por um dos terroristas, que queria ver sua câmera fotográfica).

“Quando estava próximo da porta de saída (do gabinete presidencial), um deles me abordou e exigiu que eu deletasse as fotos daquele acontecimento. Após confirmar que eu teria cumprido com a exigência, uma das pessoas me cumprimentou. Naquele momento e naquelas circunstâncias, eu não poderia deixar de retribuir o cumprimento, até mesmo por temer por minha segurança”, narrou.

E completou: “Eu estava preocupado que, se não retribuísse o cumprimento, isso poderia levar a uma situação perigosa para mim, e cumprimentá-lo me pareceu uma boa forma de aliviar a tensão”.

Extrema direita sem senso do ridículo

Ao questioná-lo, a oposição apelou para algumas das perguntas mais patéticas já vistas em uma CPI. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) chegou ao ponto de manifestar estranheza pelo fato de Machado não ter sido preso, ignorando o fato de ele ser um profissional da imprensa devidamente identificado. 

Já Marco Feliciano (PL-SP) cobrou o fotógrafo por não ter dado voz de prisão aos invasores. E houve quem achasse suspeito o fato de o profissional ter feito também a cobertura dos ataques no dia 12 de dezembro nas ruas de Brasília, como se não fosse essa a sua função.

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) lembrou que as fotos feitas por Adriano Machado foram disponibilizadas pela agência Reuters com o devido crédito ao profissional. “Um jornalista, que coloca na foto os créditos do seu trabalho, ser acusado de infiltrado é brincar com a inteligência de todos os brasileiros e brasileiras.” 

Já o deputado Rogério Correia (PT-MG) chamou a atenção para o absurdo da tentativa bolsonarista: “Sabe qual é a imagem com que eu fico? O mundo está pegando fogo, o senhor vai lá e tira uma foto e acaba responsabilizado porque tirou a foto do incêndio. E (não se responsabiliza) quem botou fogo no mundo. É realmente hilariante se não fosse trágico”.

E o líder do PT no Senado, Fabiano Contarato (ES), tratou de lembrar o que não pode ser esquecido. “O que aconteceu no dia 8 foi o retrato do que o bolsonarismo pregou por quatro anos dentro do Estado brasileiro”, disse, lembrando que Jair Bolsonaro e seus apoiadores “ficaram quatro anos atacando a democracia” e acabaram “instigando, induzindo, auxiliando”o 8 de Janeiro.

A prova de que Flávio Dino não foi omisso

Por um momento, os bolsonaristas chegaram a acreditar que poderiam usar o depoimento de Adriano Machado para atacar o ministro da Justiça, Flávio Dino, a quem tentam, a todo momento, acusar de omissão.

O repórter fotográfico contou ter fotografado homens da Força Nacional de Segurança de prontidão na Esplanada dos Ministérios quando os ataques começaram. A oposição, então, tentou dizer que se tratava de uma prova de que Dino teria deixado de agir de propósito, sem perceber que o depoimento do profissional, na verdade, confirma o que o ministro tem dito sempre.

Quem explicou muito bem a questão foi o deputado Pastor Henrique Vieira (PSol-RJ). Ele lembrou que a extrema direita tem usado como argumento o Decreto 5.289 de 2004, que, de fato, permitia o acionamento da Força Nacional pelo ministro da Justiça. 

No entanto, de forma nada honesta, os bolsonaristas ignoram o fato de que, em 2020, o Supremo Tribunal Federal (STF) analisou esse decreto e tornou ilegal o acionamento dessas tropas sem autorização expressa do governador do estado onde elas atuarão.

“Na última decisão, que interpreta o decreto, o STF é nítido: Força Nacional de Segurança não pode ser requisitada por ministro de Estado. É responsabilidade do governador. Portanto, a imagem da Força Nacional de Segurança parada não corrobora a tese de omissão do Dino, corrobora a tese de omissão do governador (do DF, Ibaneis Rocha)”, argumentou.

 

Vieira lembrou, entretanto, que Dino fez tudo que estava a seu alcance. Em 7 de janeiro, o ministro assinou a portaria 272/2023, colocando a Força Nacional de Segurança à disposição de Ibaneis Rocha e seu secretário de Seguranca, Anderson Torres. Além disso, Dino assinou o Ofício nº 48, avisando o governador do DF sobre a prontidão das tropas.

“O Dino faz uma portaria colocando a Força à disposição, oficia o governador dizendo ‘estamos à disposição, assim que formos convocados, agiremos de imediato’. E a Força Nacional de Segurança estava em casa, como a PM do DF, apenas de sobreaviso? Não. Estava de prontidão. Obrigado pela foto”, continuou o deputado.

“A omissão não está no Ministério da Justiça, está na estrutura de segurança do DF. Porque em que momento a Força Nacional agiu? Quando foi decretada intervenção na Secretaria de Segurança Pública do DF. Quando foi decretada a intervenção, o que aconteceu com a Força de Segurança? Conforme previsão constitucional, agiu para resolver o problema. A extrema direita é a irracionalidade tentando se tornar racional”, finalizou Vieira.

Da Redação do PT

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