A mídia corporativa mais uma vez se revela como porta-voz dos interesses da elite financeira. Em editorial publicado na terça-feira (15), o jornal O Globo, em consonância com outros veículos da grande imprensa, voltou a defender um pacote de medidas neoliberais que visam, na prática, o aprofundamento da desigualdade social no Brasil.
A proposta de cortar gastos públicos sob o pretexto de garantir a sustentabilidade da dívida pública é um ataque frontal aos mais vulneráveis. Ao defender essas medidas, a mídia ignora deliberadamente seus impactos devastadores sobre a vida de milhões de brasileiros.
Futurologia e manipulação
Em um exercício misturando futurologia e tentativa de manipulação da pauta econômica, o jornal O Globo chegou a especular sobre os caminhos do arcabouço fiscal: “o plano de Haddad deverá prever cortes nos supersalários do funcionalismo — pagos acima do teto constitucional —, o fim da indexação ao salário mínimo do BPC — concedido a idosos de baixa renda ou a deficientes — e o aumento na idade de concessão, além de mudança de critérios de acesso ao abono salarial”, aponta o jornal.
Outros jornais se somaram ao ataque do Globo, como a Folha de S. Paulo, que acusou Lula de praticar “demagogia” por querer cumprir a reforma do imposto de renda com a isenção de quem ganha até R$ 5 mil até 2026, uma de suas promessas de campanha,
Na manhã desta quarta-feira, (16), a presidenta do PT Gleisi Hoffmann fez um alerta sobre os efeitos de medidas que garantem o bem-estar de aposentados e pensionistas, por exemplo. Para a petista, “é preocupante ver de novo na pauta conversa sobre revisão de programas sociais como BPC, seguro-desemprego e abono salarial, adiando a urgente reforma no imposto de renda. Já vimos esse filme e o final não é bom pro país”.
Ela lembrou também que a prévia do PIB aponta para os acertos da política econômica do governo Lula e que foi para isso que os brasileiros “fizeram o L”.
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Ao buscar cortes indiscriminados, o neoliberalismo mais uma vez transfere o peso da crise para os vulneráveis, protegendo os interesses das elites. Embora não seja novidade, permanece chocante.
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A falácia da austeridade fiscal
A tese de que o corte de gastos é a única solução para o equilíbrio fiscal é uma prece repetida à exaustão pela Faria Lima, para a qual os rentistas dizem “amém” sem pestanejar. No entanto, a história nos mostra que a receita não funciona. A redução de investimentos públicos e de consumo leva à estagnação econômica e ao aumento do desemprego.
A dívida pública, em si, não é o problema central. O verdadeiro desafio é a má gestão dos recursos e a concentração de renda, que podem ser combatidos por meio de ações como a taxação de grandes fortunas e o enfrentamento à evasão fiscal.
Juros baixos e desenvolvimento
Enquanto os urubus do mercado e da mídia corporativa reforçam a cantilena da austeridade fiscal e do aumento da taxa Selic, é necessário lembrar que políticas monetárias mais flexíveis estimulam o desenvolvimento e a geração de empregos. Juros reduzidos facilitam o acesso ao crédito a empresas e consumidores, incentivando investimentos, expandindo a produção e gerando novos postos de trabalho.
Selic ameaça investimentos e recuperação da indústria
A reversão da trajetória de queda da Selic, que voltou a subir em setembro para 10,75%, representa uma ameaça real para a consolidação do processo de reindustrialização do país. Após inúmeros alertas de representantes do setor produtivo, até o jornal Valor, espécie de bíblia da Faria Lima, reconheceu que haverá cortes nos investimentos por causa alta da Selic.
Em editorial publicado na terça-feira (15), o jornal destaca que o aumento da compra de máquinas e equipamentos no exterior em 2024 se deve ao crescimento da indústria e do consumo das famílias e mesmo do governo federal. Também desempenham papel crucial no cenário positivo o aumento da oferta de crédito pelo BNDES e os investimentos da Nova Indústria Brasil (NIB).
“A reviravolta dos juros básicos, no entanto, que estão em um ciclo de alta, pode frear a tendência ao encarecer o custo do dinheiro”, alerta o diário que, apesar de ciente do papel nefasto dos juros estratosféricos, insiste em colocar a culpa na política fiscal.
Diante desse cenário, a sociedade brasileira deve se mobilizar para enfrentar essa nova ofensiva neoliberal. É preciso um debate sério sobre o modelo de desenvolvimento que o país deve implementar no médio e longo prazos. A alternativa ao neoliberalismo da Faria Lima é um projeto que prioriza a justiça social, a inclusão e a soberania industrial em bases sustentáveis, como o presidente Lula projetou em seu programa de governo acordado com o eleitor em 2022. Que prevaleça a vontade das urnas.
Por: Partido dos Trabalhadores
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil