Chega de ódio de classe

Por Julimar Roberto*

Na quarta-feira (27/3), uma matéria me deixou embasbacado, de fato. A manchete dizia “Em Curitiba, homem é preso após cortar a corda que segurava trabalhador em prédio” e seguia, “vítima, que realizava limpeza do edifício, não caiu devido ao dispositivo de segurança que evitou uma tragédia”. Sabe aqueles tempos em que você acha que já viu de tudo? Descobri que nunca é tudo, mesmo.

Se você não soube desse caso, ele aconteceu em um condomínio luxuoso em Água Verde, bairro nobre de Curitiba, no dia 14 de março. Apesar do flagrante, a notícia só foi divulgada 12 dias depois, após o Ministério Público ter denunciado o homem por tentativa de homicídio. A demora em dar publicidade ao ocorrido, acredito eu, deve ter sido para proteger o pobre moço rico e homicida.

Em prisão preventiva, o acusado declarou não saber os motivos de ter sido conduzido à delegacia, tão distorcida era sua realidade. Como alguém pode chegar ao ponto de acreditar que tem o direito de colocar em perigo a vida de outra pessoa simplesmente por não pertencer a mesma classe social? Como compreender que alguém está tão desconectado da humanidade que não enxerga a vida e a dignidade de outro ser humano?

Esse crime em Curitiba não é um problema individual, é o reflexo de uma sociedade adoecida que promove a desigualdade, a intolerância e o ódio. Uma sociedade que permite que alguns se vejam como superiores aos outros, simplesmente por causa de sua posição social ou econômica. Uma sociedade que tolera as injustiças flagrantes que acontecem diariamente e que permite que atos de violência como este aconteçam.

De forma alguma, atitudes como a desse criminoso podem ser banalizadas. Cada vez que toleramos a violência baseada em ódio de classe, estamos comprometendo os valores fundamentais de justiça e dignidade. Permitir que tais atos se tornem parte do tecido social é abrir as comportas para um ciclo de desumanização e injustiça.

Nesse contexto, vale ressaltar que a classe trabalhadora enfrenta riscos significativos. Frequentemente, vemos trabalhadores e trabalhadoras sendo expostos a condições precárias, salários injustos e falta de proteção social. Além disso, o preconceito e o assédio no local de trabalho são realidades preocupantes que muitos enfrentam diariamente. A normalização da violência e da intolerância só aumenta esses perigos, criando um ambiente em que os direitos trabalhistas e sociais são constantemente ameaçados.

Frente a isso, temos a obrigação moral de resistir firmemente a qualquer tentativa de trivializar a violência e a discriminação, garantindo que cada incidente seja tratado com a seriedade e a urgência que merece. Somente ao enfrentarmos essas questões de frente e confrontarmos as raízes profundas do ódio de classe poderemos construir uma sociedade verdadeiramente justa e inclusiva.

*Julimar é comerciário e presidente da Contracs-CUT

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