Acossado pela alta rejeição do eleitorado a sua pessoa, o chefe do Executivo tenta se apresentar como o estadista que nunca foi. No entanto, o personagem não se sustenta
Mentiroso, embusteiro, impostor, desleal, falso, hipócrita, pérfido, traiçoeiro, traidor, bufão. O dicionário de sinônimos é pródigo em qualificações para o Jair Bolsonaro que surgiu na entrevista concedida logo após o primeiro turno das eleições. Despudorado, como todo farsante, apresentou-se como o estadista ponderado que jamais foi em toda sua vida pública, desde a saída do Exército por planejar atos terroristas.
Na última quinta-feira (6), em evento eleitoral em pleno Palácio do Alvorada, Bolsonaro chegou a se desculpar por ter falado “demais” e ofendido muitas pessoas “de forma não intencional” nos últimos anos. No entanto, por várias vezes nos últimos dias a máscara de político moderado foi ao chão, revelando o autoritário belicoso e agressivo, racista, machista e homofóbico que realmente é o genocida Bolsonaro.
Na mesma quinta, em evento na Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Bolsonaro teve uma “recaída” e reforçou clichês da extrema-direita sobre a chamada “pauta de costumes”.
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“Dos 180 capítulos, o mais importante tratava da desconstrução da heteronormatividade. Nós não queremos isso para o nosso Brasil. A nossa família é estruturada em cima dos nossos valores judaico-cristãos, e assim deve permanecer”, afirmou, ao mencionar o decreto de criação do Programa Nacional de Direitos Humanos. Também mentiu ao alegar que o documento “falava da ideologia de gênero”.
Em entrevista a um podcast, ele admitiu que “deu uma aloprada” ao declarar, no início da pandemia, que não era “coveiro” ao ser questionado a respeito das vidas ceifadas pela doença. Porém, na mesma entrevista, torturou os fatos ao dizer que racismo “não existe da forma como falam” no Brasil.
Na sexta-feira (7), completamente descompensado, reclamou aos gritos por Lula não ter anunciado seus ministros e questionou o que o ex-presidente havia feito pelo Nordeste, insultado por ele dias antes. Também criticou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por quebrar o sigilo de mensagens de um assessor da Presidência no inquérito das milícias digitais.
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Integrantes da campanha contaram que Bolsonaro se enfureceu com ataques nas redes sociais após circular a reedição da entrevista que ele deu ao The New York Times em 2016, na qual disse que “comeria um índio sem problema nenhum”. Em ação enviada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os advogados dele acusaram de Lula desrespeitar os povos indígenas ao veicular o vídeo em sua campanha, mas foi Bolsonaro quem disse que não demarcaria “um centímetro” de terras indígenas e de quilombolas, hoje ameaçadas pelo desmatamento e o avanço do garimpo ilegal. Mas nesta segunda-feira (10) ele afirmou que reduziria o desmatamento no país. Acredite quem quiser.
Ataques ao STF e jovens, crianças e, mulheres
Neste domingo (9), Bolsonaro disse em entrevista a um canal do Youtube que “está em aberto” a possibilidade de enviar ao Congresso uma proposta para aumentar o número de ministros do STF, outro dos alvos preferenciais de Bolsonaro. Em comício em Divinópolis (MG), semana passada, ele havia dito que botará um “ponto final” no “abuso” que existe em “outro Poder, que não é o Poder Executivo”.
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À noite, falando a jornalista no Palácio da Alvorada, também afirmou que, se eleito, enviará ao Congresso um projeto para reduzir a maioridade penal. Para ele, é melhor encarcerar jovens infratores que investir no bem-estar de crianças e adolescentes, totalmente negligenciadas em seu desgoverno. Assim como as mulheres brasileiras.
Na última sexta, o deputado federal André Janones (Avante-MG) publicou um vídeo em suas redes sociais com uma compilação de vários ataques de Bolsonaro contra as mulheres. Inclusive um episódio do extinto programa CQC, da Band, em que o inquilino do Planalto confessa já ter dado “uns sopapos numa mulher”.
Nesta segunda-feira, o comunicador Gustavo Conde informou pelo Twitter que o futuro ex-presidente vem assediando o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), para que ele pressione a TV Cultura a tirar Vera Magalhães, chamada por ele de “vergonha para o jornalismo”, da mediação do debate do próximo domingo (16).
Ainda nesta segunda, reportagem da Agência Pública revela que em 2011, quando era deputado federal pelo PP, Bolsonaro pediu ao então editor da Playboy, Jardel Sebba Filho, que a revista excluísse uma declaração de que “chegou a pensar em sugerir um aborto” à segunda esposa, Ana Cristina Valle, grávida de Jair Renan. A revelação de Sebba Filho foi divulgada na manhã desta segunda-feira (10) no blog ‘Goiás 24 horas’.
“Bruto”, “ignorante” e “chucrão”, como Luiz Inácio já afirmou várias vezes, o “defensor da família e dos valores cristãos”, afinal, não é quem tenta aparentar. “Vi que o Bolsonaro anda nervoso, anda me xingando. Mas ele precisa saber que quem quer ser um chefe de Estado não pode ficar nervoso”, recomendou Lula em seu perfil no Twitter. É improvável que Bolsonaro, refém de seus instintos primitivos, escute o conselho.
Fonte: Site PT