A investigação da Polícia Federal sobre a falsificação de certificados de vacina contra a Covid, envolvendo Jair Bolsonaro e pessoas próximas a ele, revelou algo muito mais grave.
Áudios de celular interceptados pela PF provam que um golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder, mesmo depois de ser derrotado nas urnas, era abertamente tramado entre o ajudante de ordens do ex-presidente, Mauro Cid, e o ex-major do Exército Ailton Barros, também chamado de “01 de Bolsonaro”.
Segundo a jornalista Daniela Lima, da CNN, que revelou os áudios em primeira mão, trata-se de uma “prova cabal de que a discussão de um golpe de Estado, após a derrota de Jair Bolsonaro, ocorreu na antessala do ex-presidente da República”.
Já a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, classificou os áudios como algo “gravíssimo” e adiantou que eles serão valiosos para a CPMI do Golpe, Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que vai investigar os atos terroristas e golpistas de 8 de janeiro.
“Como dizem, é batom na cueca. É o entorno do ex-presidente articulando, tudo falado às claras. É a primeira prova de que estavam discutindo golpear o Estado”, afirmou Gleisi pelo Twitter.
A presidenta do PT lembrou ainda a minuta de um golpe encontrada na casa do ex-ministro de Bolsonaro Anderson Torres, hoje preso. “(Tudo) está nas mãos da PF, por isso o medo dos bolsonaristas. O genocida é o capitão do golpe!”, ressaltou.
O senador Humberto Costa (PT-PE) também se manifestou, afirmando ser “necessário que os democratas se unam para exigir punição severa contra aqueles que tentaram ferir de morte o Estado brasileiro” (veja vídeo abaixo).
Quem foi flagrado tramando o golpe
Os áudios interceptados pela PF foram enviados na primeira hora de 15 de dezembro de 2022 pelo ex-major Ailton Barros para o então ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid. Os dois foram presos na terça-feira (3) por causa do escândalo das vacinas.
Cid é o braço-direito de Bolsonaro. Foi ele quem tentou recuperar as joias surrupiadas pelo chefe e também foi ele quem comandou todo o esquema de inserção de dados falsos sobre vacinação nos sistemas do Ministério da Saúde.
Já Ailton Barros e Bolsonaro são muito amigos. Desses de ir juntos a eventos e tirar muitas fotos, sempre sorridentes e abraçados. Barros, que foi expulso do Exército após ser sete vezes preso pela Justiça Militar, costuma se apresentar como 01 de Bolsonaro e apareceu ao lado do ex-presidente em uma de suas famosas lives, em fevereiro de 2022.
Ele também foi flagrado pela PF afirmando, em outra mensagem a Mauro Cid, saber quem mandou matar a vereadora carioca Marielle Franco.
O que dizem as mensagens
Pois foram esses dois que trocaram as mensagens que planejavam um golpe de Estado. Nelas, Barros diz: “Conceito da operação. (…) Entre hoje e amanhã, sexta-feira, tem que continuar pressionando o Freire Gomes [então comandante do Exército] para que ele faça o que ele tem que fazer”.
Ele prossegue: “Até amanhã à tarde, ele faça um pronunciamento, se posicionando dessa maneira. E, se ele não aderir, quem tem que fazer esse pronunciamento é o Bolsonaro, para levantar a moral da tropa”.
Após o pronunciamento do comandante do Exército ou de Bolsonaro, o plano de golpe entraria em uma nova etapa: “Também, até amanhã à tarde, todos os atos, todos os decretos da ordem de operações já têm que estar prontos.”
Adiante, Barros explica que os atos ou decretos seriam para prender o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e para decretar Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
“Nos decretos, nas portarias que tiverem que ser assinadas, tem que ser dada a missão ao comandante da Brigada de Operações Especiais de Goiânia de prender o Alexandre de Moraes no domingo, na casa dele, como ele faz com todo mundo. E aí, na segunda-feira, ser lida a portaria ou as portarias, o decreto ou os decretos, de Garantia da Lei e da Ordem, e botar as Forças Armadas, cujo comandante supremo é o presidente da República, para agir.”
Tentativa de escapar da culpa ainda mais patética
Com essa nova prova, fica ainda mais patética a tentativa de Jair Bolsonaro e sua turma de escapar da culpa pelo ataque à democracia que ocorreu em 8 de janeiro.
Eles podem até tentar tumultuar a CPMI e criar ainda mais fake news. Mas já é de conhecimento geral do país que foram eles quem apoiaram, financiaram e tramaram um golpe que deu errado.
E todos eles se verão com a Justiça, pois a Polícia Federal já coletou muitas provas contra eles, como mostra o pedido para a realização das prisões de terça-feira (3).
Diz a PF no documento, divulgado na íntegra pelo site GGN: “A milícia digital reverberou e amplificou por multicanais a ideia de que as eleições presidenciais foram fraudadas, estimulando aos seus seguidores ‘resistirem’ na frente de quartéis e instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para uma intervenção federal comandada pelas forças militares, sob o pretexto de atuarem como um Poder Moderador, com base em uma interpretação peculiar do art. 142 da Constituição Federal”.
E prossegue: “Os arquivos de áudio e capturas de tela de mensagens trocadas no aplicativo WhatsApp evidenciaram a arquitetura do plano criminoso pelo grupo investigado. Apesar de não terem obtido êxito na tentativa de golpe de Estado, sua atuação, possivelmente, foi um dos elementos que contribuíram para os atos criminosos ocorridos no dia 08 de janeiro de 2023”.
Da Redação do PT