Por Julimar Roberto*
A discussão sobre a redução da jornada de trabalho é um tema que, há muito tempo, desperta interesse e debate. Desde o final do ano passado, essa pauta ganhou novo fôlego com o apoio do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que defendeu a implementação da semana de quatro dias úteis. Essa proposta não só promete melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, mas também pode trazer benefícios significativos para as empresas e a sociedade como um todo.
Estudos realizados em diversos países mostram que a redução da jornada de trabalho está associada a uma série de benefícios para a saúde física e mental dos trabalhadores e trabalhadoras. No Reino Unido, por exemplo, um piloto com 61 companhias revelou que 71% dos colaboradores reduziram sintomas de burnout e 54% acharam mais fácil conciliar a vida pessoal e profissional. No Brasil, empresas participantes do projeto piloto da “4 Day Week Brazil” relataram melhorias na energia dos profissionais (82,4%), redução do estresse (62,7%) e aumento da disposição para momentos de lazer (78%).
Esses dados evidenciam que uma jornada reduzida permite aos trabalhadores equilibrar melhor suas responsabilidades profissionais e pessoais, resultando em menos desgaste e maior bem-estar. Um analista de suporte da Vockan mencionou que com um dia útil disponível, consegue resolver questões particulares, como médicos e compras, e o final de semana acaba sendo inteiro para a família.
Contrariando a crença de que menos horas trabalhadas resultam em menor produtividade, os dados mostram exatamente o oposto. A experiência britânica demonstrou que 92% das firmas continuarão com a semana de quatro dias, enquanto no Brasil, 61,5% das empresas notaram melhoria na execução de projetos, e 58,5% observaram mais criatividade e inovação. Isso reflete que trabalhadores e trabalhadoras mais descansados e menos estressados são, na verdade, mais produtivos e inovadores.
A resistência inicial por parte de empregadores é compreensível, dado o medo de uma possível queda na produtividade e nos lucros. No entanto, a prática tem mostrado que as companhias que adotam a semana de quatro dias não só mantêm a produtividade como também podem aumentar suas receitas, sem contar que a redução de jornada pode trazer economia para os empregadores em termos de gastos com energia, água e aluguel de prédios.
Além disso, a implementação de uma semana de quatro dias pode ter um impacto significativo na criação de novos empregos. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) estima que a adoção desse modelo entre bancários poderia gerar mais de 108 mil vagas no setor. Esse aumento de oportunidades de trabalho é vital para um país que luta contra altas taxas de desemprego.
Além de uma mudança cultural significativa, a nova modalidade representa o compromisso com a qualidade de vida dos funcionários das empresas optantes, o que pode ser um diferencial competitivo no mercado de trabalho. Novas gerações valorizam autonomia, flexibilidade e qualidade de vida. Companhias que não se adaptarem a esses novos formatos correm o risco de perder talentos.
A redução da jornada de trabalho não é apenas uma questão de bem-estar individual, mas uma evolução necessária para uma sociedade mais justa e sustentável. A implementação da semana de quatro dias é um passo necessário para o futuro do trabalho. Os benefícios são claros, melhor qualidade de vida para os trabalhadores, aumento da produtividade, impactos econômicos positivos e a criação de uma nova cultura de trabalho. É hora de abraçar essa mudança e construir uma sociedade onde todos possam prosperar.
*Julimar é comerciário e presidente da Contracs-CUT