Às vésperas da penúltima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de 2024, que começa nesta terça-feira (5), o mercado financeiro, em articulação com setores da mídia corporativa, voltou à carga para pressionar por uma nova alta da taxa básica de juros (Selic) – hoje já no extorsivo patamar de 10,75% ao ano.
De olho na multiplicação dos lucros da especulação financeira, a turma da Faria Lima apelou para uma nova manipulação escancarada do câmbio, com um alta intempestiva do dólar para a cotação de R$ 5,87 na sexta-feira (4), pressionando pela elevação dos juros para conter uma ameaça inflacionária criada artificialmente.
Para dar uma roupagem tecnicista à ação sabotadora e, ao mesmo tempo, tentar enquadrar o governo Lula na agenda neoliberal, os especuladores reiteraram o conhecido – e ainda não comprovado – argumento de que o país está à beira de uma hecatombe fiscal.
Viu-se, nos últimos dias, uma avalanche de matérias jornalísticas e editoriais pressionando pelo fim de políticas públicas fundamentais para o bem-estar de quem mais precisa, como a valorização do salário mínimo e a indexação deste às aposentadorias. Cobram também cortes na saúde, na educação e no Benefício de Prestação Continuada (BPC), concedido a idosos com 65 anos ou mais e a pessoas com deficiência.
Inércia do BC
Não por coincidência, o bolsonarista Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, não moveu uma palha para segurar a cotação da moeda americana, diferentemente da sua atuação no período em que Bolsonaro era presidente.
Na rede social X, a presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), voltou a denunciar essa ação criminosa contra o país. “Vender dólares quando a cotação sobe é o instrumento clássico dos Bancos Centrais para conter a especulação. O BC de Campos Neto fez 122 intervenções desse tipo no tempo do Bolsonaro. E só duas, ano passado, no governo Lula. Agora responda se o dólar dispara por conta de uma crise fiscal inexistente ou pela sabotagem de Campos Neto?! É criminoso o que estão fazendo com o país”, afirmou.
Chantagem
A manipulação do dólar ficou ainda mais escancarada na segunda-feira (7), logo pela manhã, quando a moeda americana “despencava”, segundo e imprensa, e era vendida a R$ 5,75, na esteira de declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o anúncio que será feito pelo governo sobre cortes no orçamento. Como se os especuladores considerassem seus interesses atendidos.
Uma verdadeira chantagem, como escreveu até mesmo um dos colunistas do Uol, José Paulo Kupfer. Segundo ele, “os operadores do mercado financeiro intensificaram, nos últimos tempos, a chantagem sobre o governo para que acelere cortes nos gastos públicos. O nome do movimento é conhecido: especulação à solta”.
Kupfer sustenta ainda que “a prova da chantagem vem do fato de que não houve qualquer outra alteração nos rumos da economia brasileira que desse sustentação técnica ao recuo em manada”.
Conluio com a imprensa
Essa nova frente de pressão reforça a urgência de se enfrentar a atuação nada republicana do mercado financeiro, que arroga para si a definição dos destinos do país, em conluio com uma imprensa cada vez mais distante de sua nobre função de informar correta e honestamente a população.
Na segunda-feira (4), por exemplo, em editorial, o jornal Folha de S.Paulo intensificou a pressão por cortes em políticas públicas e reafirmou a teoria absurda de que avanços como o aumento dos empregos, da renda das famílias e do consumo ameaçam o controle inflacionário, alertando que esse cenário “fará o BC subir os juros de novo”. Essa mesma linha foi adotada em um editorial do jornal O Globo.
Para Gleisi Hoffmann, a grande mídia omite dos leitores o fato de que, ao invés das políticas do governo Lula, o que tem comprometido as contas públicas são as despesas estratosféricas com o pagamento dos juros da dívida pública e benefícios como a desoneração da folha de pagamento para setores da economia que nenhum retorno dão à sociedade.
“Editoriais da Folha e de O Globo exigem do governo cortes na Saúde e Educação, no seguro-desemprego e até a desvinculação do BPC e das aposentadorias ao salário-mínimo, em nome de uma alegada credibilidade fiscal. Que credibilidade têm os jornais, que se beneficiam de uma injustíssima e danosa isenção de impostos? Sobre essa desoneração eles se calam, né?”, postou a presidenta do PT, na rede social X, também criticando o silêncio da mídia a respeito da inércia do Banco Central diante da disparada do dólar.
Além disso, Gleisi voltou a afirmar que não há qualquer justificativa para uma nova elevação dos juros pelo Banco Central, uma vez que o Brasil vive um cenário de estabilidade econômica.
“Cortes contra trabalhadores, aposentados e a maioria do povo; juros para os especuladores e detentores da dívida pública, anabolizada pela Selic estratosférica. A economia crescendo, os fundamentos em ordem, retomada dos investimentos e da indústria, empregos, salário e renda subindo; nada satisfaz a voracidade dos mercados que a mídia vocaliza como se fosse a verdade universal. E chamam isso de debate econômico. Quanta hipocrisia…”, criticou.