“Não precisa ouvir só a Faria Lima, ouça os trabalhadores”, diz Lula a agências de risco

Na recente entrevista que concedeu a jornalistas na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), na quarta-feira (25), o presidente Lula foi questionado sobre os encontros que teve, em Nova York, com representantes das principais agências de classificação de risco – Fitch, Moody’s e Standard & Poor’s. O petista respondeu afirmando ser importante que elas “saibam da boca do presidente da República o que está acontecendo” no Brasil. Lula chamou a atenção para um fato no mínimo curioso: as agências de classificação de risco só ouvem o mercado financeiro, o mesmo que tem errado sistematicamente nas projeções de crescimento do país.

“Não precisa ouvir só a Faria Lima, não precisa ouvir só os empresários. Ouça os trabalhadores e ouça o presidente da República”, alfinetou Lula. O puxão de orelha do presidente faz sentido: O Banco Central (BC), não por coincidência, também não ouve trabalhadores e representantes da sociedade civil, como é de praxes em outros países. A autarquia chefiada pelo bolsonarista Campos Neto toma suas decisões, única e exclusivamente, levando em consideração as “análises” do mercado financeiro.

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São elas que baseiam a elaboração do Boletim Focus, uma espécie de grande “farol” para as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), que recentemente elevou a Selic, de 10,5% para 10,75%, apesar dos indicadores econômicos positivos e inflação sob controle.

“O mercado dizia, em janeiro de 2023, que a gente ia crescer 0,8%. Nós crescemos 3% […] Pois bem, o mercado começou dizendo que a gente ia crescer 1,5%. Agora o mercado já eleva a possibilidade de crescimento para 3,5%”, criticou o presidente, referindo-se às estimativas do ano passado e às deste ano dos analistas da Faria Lima.

Por meio da rede social Bluesky, nesta quinta-feira (26), a presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), reforçou as falas de Lula a jornalistas na sede da ONU e criticou o boletim Focus, que tem sido utilizado como instrumento para a especulação financeira, em um movimento retroalimentado pelo próprio Banco Central.

“Prévia do IPCA aponta menos inflação. Ou seja: juros reais ainda maiores que o decidido no Copom.É nisso que dá seguir as especulações do boletim Focus e não a economia real. E ainda posam de ‘técnicos’ os irresponsáveis arrogantes”, disparou Gleisi.

Grau de investimento

Durante a coletiva de imprensa em NY, Lula frisou que a recuperação da economia é uma das razões de seu regresso à Presidência da República. “Vamos lembrar algumas palavras mágicas que eu dizia durante a campanha […] É preciso que a gente tenha estabilidade fiscal, é preciso que a gente tenha estabilidade econômica, é preciso que a gente tenha estabilidade política, é preciso que a gente tenha estabilidade jurídica e é preciso que a gente tenha estabilidade social. E por último, é preciso ter previsibilidade”, pontuou.

O presidente elencou uma série de novos investimentos aportados no Brasil, fruto das “marcas de estabilidade” de seu governo. “Há quanto tempo vocês não ouviam falar de investimentos da indústria automobilística? Pois bem: anunciaram investimentos de R$ 130 bilhões até 2028. Há quanto tempo vocês não ouviam falar na indústria de alimentos? R$ 120 bilhões. Indústria de papel e celulose: R$ 105 bilhões. Indústria de aço: R$ 100 bilhões”, contabilizou Lula.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT-SP), também viajou a Nova York, por ocasião da abertura da 79ª Assembleia Geral da ONU. Haddad indicou estar otimista com a economia e que o país deve recuperar o grau de investimento das agências de risco já no ano que vem. Na avaliação do ministro, “não faz muito sentido o país não possuir grau de investimento”.

Enquanto isso, o mercado segue fazendo as contas no país de quanto a Faria Lima irá lucrar com a próxima alta da Selic, cuja bolsa de apostas aponta para uma elevação de meio ponto percentual. E tome arrocho monetário no lombo do povo.

Por: Partido dos Trabalhadores Redação, com UOL

Foto: Ricardo Stuckert

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