Por Julimar Roberto*
Em situações de crise humanitária, como as recentes enchentes no Rio Grande do Sul, a disseminação de fake news tem sido um verdadeiro desafio para as operações de resgate e assistência aos afetados. Através das redes sociais e outras plataformas, rumores infundados se espalham rapidamente, comprometendo não apenas a eficácia dos esforços de socorro, mas também minando a confiança da população nas autoridades e organizações envolvidas.
É lamentável que, durante o pior desastre natural da história do estado gaúcho, surjam boatos caluniosos como sobre a retenção de doações para cobrança de impostos, a exigência de nota fiscal para transporte de ajuda e até mesmo a suposta necessidade de autorizações para voluntários. Tais notícias falsas não apenas desperdiçam tempo e desviam recursos preciosos, mas também minam a disposição das pessoas em colaborar.
É essencial que a sociedade como um todo reconheça a seriedade desse problema e se comprometa a verificar cuidadosamente a veracidade das informações antes de compartilhá-las. As autoridades também têm um papel fundamental na comunicação transparente e na desmistificação de boatos, garantindo assim que as operações de socorro possam transcorrer de forma eficiente e sem interferências.
Me dá muita tristeza só de imaginar que, num momento em que todo o país deveria estar unido e mobilizado no auxílio, haja a necessidade de despender vigorosos esforços para combater mentiras, preconceito e irresponsabilidades de uma minoria vil que só quer apregoar o ódio, a desconfiança e a discórdia.
Quem não viu a influencer “sei lá quem” – e nem quero saber – dizer que a culpa é dos terreiros de macumba que têm no Rio Grande do Sul e atraíram a “ira de Deus”? Teve quem até culpou a Madonna. E os debates no Congresso? Muitos querendo capitalizar em cima da dor e da desgraça alheias. Nessas horas, onde fica o “que a sua mão esquerda não saiba o que está fazendo a direita”? Ou, melhor ainda, “já que não ajuda, faz favor de não atrapalhar”.
Mas para não fugir tanto do assunto, quero deixar um apelo. Que em momentos de crise, a solidariedade e a união possam prevalecer sobre as divisões políticas e ideológicas. Que sejamos uma sociedade com maturidade suficiente para colocar os interesses coletivos acima de agendas partidárias ou pessoais. Que tenhamos consciência de que a disseminação de fake news em momentos tão delicados não apenas é irresponsável e desumana, mas também pode ter consequências graves e prejudiciais para o país como um todo.
Foi assim na pandemia e está sendo assim novamente. Quando aprenderemos a lição? É imperativo que toda a população se una para apoiar as vítimas de desastres e rejeitar qualquer tentativa de manipulação da narrativa para fins políticos, religiosos ou pessoais. A verdade e a transparência devem ser os alicerces sobre os quais construímos nossa resposta a crises, garantindo assim um futuro verdadeiramente digno, sustentável e inclusivo para o nosso país.
*Julimar e comerciário e presidente da Contracs-CUT