O ataque planetário ao Brasil, feito pelo super-rico global Elon Musk não é uma ação tresloucada. Ela é calculada e bem executada, pois faz parte de uma estrutura e estratégia que usam os melhores profissionais e a melhor tecnologia disponível, que, atualmente, só as big techs podem pagar e usar.
E por trás dessas ações de guerra contra os países, está a luta pela própria sobrevivência das big techs e desse modelo em que empresas são maiores que países, não precisam obedecer a leis, operam com sua própria constituição (a política de privacidade) e precisam, juntas, combater a soberania dos países e seus povos. Dessa forma, o debate sobre as redes sociais, a “liberdade de expressão”, são parte da “narrativa” por traz da agressiva atitude do empresário Elon Musk, ao enfrentar o STF, em especial o ministro Alexandre de Moraes, e o presidente Lula.
Essa pseudo “narrativa” é a ponta do míssil, pois o real problema é o uso dos recursos e dados públicos, suas leis, bases de todo o sistema de alimentação da Inteligência Artificial, das big techs, que não podem e não querem pagar pelo uso e produção de dados, que é paga pelos países. Quanto custa manter centros de pesquisas e universidades? Quanto do balanço das big techs decorre de licenças pagas pelos países?
IBGE SINGED: um sistema soberano
Após um grande diagnóstico feito em 2023, a partir do projeto IBGE 90 Anos, ficou claro, em mais de 800 páginas publicadas, que o diagnóstico e remédio necessário estão na receita aplicada, a partir de uma proposta coletiva de nova constituição digital nacional e mundial, que vai muito além de um debate de regras. Estamos falando de um embate de recursos e o ataque aos fundos e agentes públicos, ao povo, em meio a disputa pelos riscos e oportunidades da Era Digital. O Brasil vai ser um mero montador de carro, como foi na era industrial? Ou o Brasil vai criar suas próprias bases de desenvolvimento e inovação?
Com base neste diagnóstico, o IBGE Comunica, enquanto maior e mais importante órgão oficial de informação do Brasil e um dos maiores do mundo, conclama o pensamento técnico e da sociedade a participarem no Rio, de 29/07 a 2/08 deste ano, da Conferência Nacional dos Agentes Produtores e Usuários de Dados – Soberania Nacional em Geociências, Estatísticas e Dados: riscos e oportunidades do Brasil na Era Digital.
A presente inciativa, consagrada no passado e na parte da série de conferências históricas do IBGE como a CONFEST/CONFEGE, tem por objetivo discutir os riscos e oportunidades que derivam da atual governança da Era Digital, e tratar da consolidação do Sistema Nacional de Geociências, Estatística e Dados (SINGED). Ao ser operada fundamentalmente por empresas gigantes, maiores que países, a desigualdade digital assume novas dimensões, mais profundas, inclusive, que a tradicional exclusão e pobreza que eram próprias da antiga Era Industrial.
Os primeiros convidados foram o presidente Lula, que em diálogo conosco, em audiência, apoia essa iniciativa, e que tem conclamado o mundo a debater a governança global; e o secretário-geral da ONU, António Guterres, entidade que precisa assumir esse debate de forma mais concreta. E demais representantes dos poderes, empresas e da sociedade.
O Brasil tem técnicos e representes à altura deste debate e de operar esse sistema Soberano. Os jogos já começaram…
Marcio Pochmann é economista e atual presidente do IBGE. Foi presidente da Fundação Perseu Abramo e do IPEA. É Doutor em Ciências Econômicas e foi professor titular da Unicamp de 1989 a 2020. Em 2002, venceu o Prêmio Jabuti
Artigo originalmente publicado na Focus Brasil, da Fundação Perseu Abramo