Por Julimar Roberto*
Quem ainda tinha a esperança de que Bolsonaro iria se safar ileso, teve seu castelo de areia destruído essa semana, com a divulgação do vídeo de uma reunião realizada por ele, enquanto presidente, junto a sua equipe de governo, em 5 de julho de 2022. O conteúdo desse encontro, agora tornado público pelo Supremo Tribunal Federal (STF), revela um cenário sombrio de ataques à democracia e ameaças aos princípios mais básicos do Estado de Direito.
O vídeo apresenta Bolsonaro em um estado de exaltação, lançando ataques virulentos contra seus opositores políticos, incluindo o presidente Lula, seu principal adversário na época. Mais preocupante ainda são suas ofensas direcionadas aos ministros do STF, demonstrando uma total falta de respeito pelas instituições democráticas do país.
Ao longo da reunião, o ex-capitão instrui seus ministros a questionar o processo eleitoral e incita ações que visam deslegitimar o resultado das eleições. Essas atitudes irresponsáveis contribuíram para uma escalada de tensões políticas e sociais, culminando na tentativa de golpe do 8 de Janeiro, um episódio sombrio que revela as verdadeiras intenções por trás dessas manobras golpistas.
Mas essa foi apenas a cereja do bolo. Antes da divulgação do vídeo, a investigação conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes – Operação Tempus Veritatis –, deflagrada no início de fevereiro, já ligava Jair Bolsonaro aos atos golpistas.
O saldo resultou em busca e apreensão na casa de 33 pessoas, sendo que outras quatro foram levadas em prisão preventiva e mais 48 sofreram medidas alternativas, que incluem proibir o contato entre investigados, entrega de passaportes e suspensão do exercício de funções públicas. O presidente do PL – partido de Bolsonaro -, Valdemar Costa Neto, ficou preso por três dias, durante a operação, por posse ilegal de arma.
Vale ressaltar que, no final de janeiro, Carlos Bolsonaro também foi alvo de operação em Angra dos Reis sob suspeita de ter comandado uma estrutura paralela da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). O chamado “gabinete do ódio” monitorava ilegalmente jornalistas e adversários políticos.
Ao ver o cerco fechando em torno de si, a estratégia de Jair Bolsonaro foi a de convocar seus seguidores para um ato na cidade de São Paulo, marcada para 25 de fevereiro, com o objetivo de se defender do que ele chama de “acusações imputadas à sua pessoa”. Com o ato, ele espera demonstrar a força necessária para intimidar a Polícia Federal e o Supremo, evitando uma determinação de prisão.
Paralelo a isso, sua defesa já solicitou ao STF a devolução do passaporte do ex-capitão, apreendido durante a Operação Tempus Veritatis. Seria muito devaneio de minha parte imaginar que Bolsonaro instigaria seus seguidores a instaurar o caos na Paulista para, assim, acobertar sua fuga do país? Quem viver verá.
Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos.
*Julimar é comerciário e presidente da Contracs-CUT