A Inflação em 2023

Por Beto Faro*

No dia 11 de janeiro, o IBGE confirmou mais uma ótima previsão sobre o desempenho da economia e da gestão macroeconômica ao divulgar que em 2023 a taxa de inflação no Brasil se manteve abaixo do teto da meta. A variação acumulada do IPCA no ano, foi de 4,62%. Os monetaristas ortodoxos discordarão, mas avaliamos que esse resultado provou a impropriedade da sustentação, pelo Banco Central, da extrema rigidez da política monetária traduzida na taxa estratosférica da Selic, de 13.75%, mantida até agosto do ano passado.

Com a taxa básica de juros na atualidade, em 11.75%, ainda figuramos entre os países com os juros mais elevados do planeta e, sobretudo, em dissonância com a realidade de solidez dos fundamentos da economia brasileira. Esperamos a continuidade, com mais celeridade, do processo de relaxamento da Selic em 2024, para o maior dinamismo da economia do país em benefício da nossa população.

Mas devemos estar muito atentos para alguns alertas contidos nos números divulgados pelo IBGE. Uma grande notícia dentro da boa notícia do índice geral do IPCA, foi a deflação da “comida em casa” no ano. Com efeito, tivemos em 2023 a taxa de –0.5% para o IPCA da alimentação no domicílio. Vale lembrar que em 2022, último ano do desastre Bolsonaro, a inflação da “comida dentro de casa”, foi de 13.2%.

No entanto, entre os produtos que integram este indicador de extrema sensibilidade para as camadas economicamente mais vulneráveis, chamamos a atenção para o arroz e o feijão (preto) cujas taxas inflacionárias alcançaram, respectivamente, 24.5% e 13.2%, portanto, muitas vezes acima do índice geral e do IPCA da alimentação no domicílio. São dois produtos que estão na base da nossa dieta.

Não por coincidência, no artigo anterior que publicamos neste jornal, refletimos sobre os significados das previsões catastróficas feitas pelo Ministério da Agricultura acerca das tendências de curto/médio prazos que apontam para o encolhimento brutal das áreas plantadas com essas duas culturas no Brasil.

As taxas elevadas desses produtos, já sintomáticas de insuficiências na oferta, combinadas com as projeções do MAPA, certamente configuram quadro preocupante que levarão o governo federal a adotar políticas que restabeleçam os níveis apropriados do abastecimento desses alimentos. Afinal, conforme observamos no artigo mencionado, na ausência dessas providências, melhor seria uma forte crise nos preços desses produtos, o que forçaria uma solução.

Caso contrário, seria o miserável “triunfo do miojo” (substituição do feijão com arroz por ultraprocessados).

Belém participa das regiões metropolitanas objeto das pesquisas do IPCA pelo IBGE. Especificamente para a RM de Belém, a inflação em 2023 foi de 4.8% após os 5.6% de 2022. Mas o destaque em Belém foi a deflação de 1.6% do IPCA da alimentação no domicílio; portanto, um resultado melhor ainda que o verificado nacionalmente. Um grande alívio para a nossa população ante a inflação da comida em Belém, em 2022, de 12.2%.

Contudo, a exemplo do fenômeno nacional, o caso feijão com arroz foi ainda mais grave em Belém e seguramente em todo o estado. O feijão, com IPCA de 23% e o arroz, com 18% estiveram entre os dez produtos com as maiores taxas de inflação em Belém. Creio que a Secretaria de Agricultura do estado também deveria adotar medidas urgentes para estimular a autossuficiência do estado na oferta dos alimentos básicos da população cujos dados apontando o definhamento da respectiva estrutura produtiva são altamente preocupantes.

A propósito, um alerta importante para o governo do estado dado pelos números do IPCA em Belém foram os aumentos nos preços dos serviços de emplacamento e licença, e da taxa de água e esgoto. Foram os itens que apresentaram a quinta e sexta posições entre os maiores índices do IPCA na RM de Belém.

Em suma, temos problemas e muitos desafios para serem enfrentados nos planos nacional e estadual, mas os avanços já proporcionados pelos respectivos governos nos encorajam a apostarmos em cenários virtuosos para o nosso povo. Mas a sociedade tem que estar mobilizada, sempre!

Artigo originalmente publicado no jornal O Liberal

*Beto Faro, é agricultor, sindicalista e senador do PT pelo Pará

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