O braço mineiro do bolsonarismo tem demonstrado toda a sua violência e misoginia, típicas das milícias organizadas, ao tentar intimidar deputadas estaduais progressistas na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Devido a constantes ameaças de morte, três das sete parlamentares que integram o bloco Democracia e Luta, de oposição ao governo estadual, são obrigadas a andar com escolta policial. São elas: Andréa de Jesus (PT), Beatriz Cerqueira (PT) e Bella Gonçalves (Psol).
Além delas, a deputada Lohanna (PV), que não compõe o bloco, mas integra com as demais a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia, também necessita de proteção policial.
E a sanha da turba bolsonarista é tamanha que as ameaças vêm até mesmo de deputados, que se comportam como milicianos no interior da Assembleia Legislativa, como denunciou Beatriz Cerqueira, no sábado (28), em suas redes sociais.
ALMG não é mais um local seguro
“Pela primeira vez em cinco anos eu quis desistir, me afastar. Olhei para a semana que nem tinha terminado e me vi numa espiral de violência ao perceber que a Assembleia (de Minas Gerais) deixou de ser um lugar seguro para meu corpo e para o meu trabalho”, escreveu Beatriz no Instagram.
Beatriz relatou que mudou sua rotina em 2023, quando recebeu novas ameaças de morte, e se concentrou dentro da ALMG, até então um local em que se sentia segura. “Depois desta semana, não sinto mais”, revelou.
Dentro da própria ALMG, disse a deputada, “existe o gabinete do ódio e a milícia digital”. “Recebem do dinheiro público para praticar misoginia, intimidação, incentivar violência política contra mulheres e sequer passam pelo detector de metais”, completou, destacando que nenhuma medida foi tomada para mudar a situação e que esta será a legislatura com mais violência política contra deputadas, “escolhidas por suas pautas e trabalho”.
Cerqueira conta ainda que, diante de um movimento, na semana passada, contra os ataques a ela e à deputada Bella Gonçalves, deputados da extrema direita reagiram sem que houvesse resposta das lideranças, o que levou a novos ataques.
“Os agressores de mulheres usam as ferramentas da Assembleia para se tornarem vítimas. E conseguem!”, denunciou a parlamentar, que é professora e foi reeleita com 248 mil votos em 2022.
“Para um dia terminar sem um nível mais elevado de violência, eu decido não reagir. O silenciamento que eu me imponho para sobreviver me destrói. Mas é a opção que faço. A extrema direita tem sido vitoriosa na permanente violência política que pratica na Assembleia e empodera outras violências que recebemos fora da Assembleia. E nada é feito para impedir isso. Não há punição.”
União contra “sanha opressora”
Na postagem da deputada no Instagram, o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) se solidarizou. “Estamos juntos e, mesmo com a dureza da luta, vamos vencer. Vi na CPMI do Golpe em Brasília que as parlamentares são as mais atacadas pelos fascistas, que além do ódio de classe que tem de nós, nutrem pelas mulheres um sentimento misógino”, escreveu Correia, lembrando que a união em defesa da relatora da CPMI, Eliziane Gama, foi fundamental para vencer a “sanha opressora” dos bolsonaristas.
Na ALMG, os agressores de Beatriz Cerqueira têm a mesma postura, avaliou Correia, “mas serão também derrotados pela união. Fique firme e sempre na luta, pois a solidariedade e o reconhecimento a você e a seu trabalho são infinitos”.
A Secretaria Nacional de Mulheres do PT e a Secretaria Estadual de Mulheres PT-MG publicaram nota, no domingo (29), em solidariedade às deputadas que vêm sendo vítimas de violência política de gênero. “Esses ataques são inaceitáveis e representam uma ameaça ao pleno exercício da democracia. É de extrema preocupação o ocorrido na última semana na ALMG”, diz trecho da nota.
Instituições não podem ser “cúmplices da barbárie”
Minas Gerais foi a segunda unidade da federação estado com mais casos de feminicídio registrados no Brasil em 2022. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em julho pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no ano passado 171 mulheres foram mortas no estado pelo fato de serem mulheres.
Já no quesito violência política, Minas lidera o ranking nacional, segundo reportagem publicada no jornal Estado de Minas no último dia 26.
Em sua coluna no jornal Estado de Minas, a jornalista Bertha Maakaroun, ressaltou que as instituições não podem ser cúmplices das agressões às deputadas. “Será que Minas Gerais, que lidera o ranking do feminicídio no Brasil, precisa de mais esse incentivo? (…) Eles acreditam que podem fazer o que bem entendem. Ofendem, ameaçam, insultam”, escreveu.
A jornalista acrescentou que os parlamentares agressores gravam e compartilham as ofensas a uma audiência prisioneira de um imaginário discursivo de quem segue o estilo “Obedece ou eu te calo”.
“Querem provar que são intocáveis. Quando o ataque a qualquer deputada, já sob proteção do Estado, é desferido por um parlamentar, o que se chancela neste momento é a naturalização da violência. As instituições democráticas não podem ser cúmplices da barbárie”, concluiu a jornalista.
Da Redação do PT