Suspeitos do 8 de Janeiro: Anderson Torres, o ex-ministro golpista

Ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres é, sem dúvida alguma, um dos protagonistas da tentativa de golpe de Estado que resultou nos ataques aos Três Poderes. Por isso, a CPMI do Golpe agendou seu depoimento para esta terça-feira (8).

Hoje, um conjunto de provas mostra que sua participação foi central no uso da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para impedir eleitores do Nordeste de votar no segundo turno; no planejamento de um golpe para anular as eleições após a derrota de Bolsonaro; e nos próprios atentados de 8 de janeiro.

Comecemos por esse último crime. Após insuflar um golpe de Estado no Brasil, Bolsonaro e seus cúmplices precisavam facilitar a ação dos golpistas que estavam acampados em frente ao Quartel General do Exército em Brasília. 

Para isso, eles contaram com a ajuda de Torres, um delegado da Polícia Federal que, após ser ministro da Justiça de Bolsonaro entre abril de 2021 e dezembro de 2022, havia se tornado, em 2 de janeiro, secretário de Segurança do DF, cargo que já havia exercido entre 2019 e 2021.

Cumplicidade comprovada

A cumplicidade de Torres com os ataques do 8 de janeiro ficaram logo claros. Como a Polícia Militar do DF demorou a agir e, no início, chegou a escoltar os golpistas do QG do Exército até as sedes dos Três Poderes, o presidente Lula decretou intervenção na Segurança da capital federal. 

Assim, não demorou para o interventor Ricardo Capelli entender o que o ex-ministro de Bolsonaro fez. Após assumir a função de secretário, Torres simplesmente trocou o comando das polícias e viajou de férias para os Estados Unidos, deixando as forças desmobilizadas, e permitiu que os golpistas, que vinham dando sucessivas demonstrações de violência, entrassem na Esplanada. 

“Houve uma operação estruturada de sabotagem. Ele montou a sabotagem e viajou”, resumiu Capelli em 10 de janeiro, após conversar com os integrantes das forças de segurança do DF. O Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu da mesma forma, tanto que determinou a prisão preventiva do ex-secretário, que ficou detido de 14 de janeiro a 11 de maio.

“Tomada de poder”

A culpa de Torres ficou ainda mais evidente quando, a desculpa que ele deu à PF, de que não foi informado corretamente sobre os riscos que os golpistas representavam, acabou desmentida pelo ex-chefe de Inteligência do DF.

Em depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos, conduzida pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, o coronel da PM Jorge da Silva Pinto, ex-coordenador de Assuntos Institucionais da Subsecretaria de Inteligência, disse que os riscos foram informados diversas vezes em grupo de mensagens do qual Torres fazia parte.

Segundo o coronel, os informes se intensificaram a partir de 5 de janeiro, apontando o risco de confronto dos golpistas com os policiais e, no próprio dia 8, quando se constatou a chegada de 126 ônibus e 2.500 “manifestantes” vindos de diversos cantos do país. 

Os alertas descreviam ainda que os bolsonaristas estavam convocando o que chamavam de “tomada de poder” para os dias 7 e 8 e uma greve geral, a partir do dia 9. Mesmo assim, nenhuma providência foi tomada por aqueles que tinham a responsabilidade de proteger o Planalto, o Congresso e o STF. A inteligência “com absoluta certeza” não falhou, afirmou Silva Pinto. “O trabalho foi feito. (…) Não sei de que forma os decisores entenderam os meus alertas”, completou.

A minuta do golpe

Após os ataques do dia 8, a Polícia Federal realizou uma operação de busca e apreensão na casa do ex-ministro. Ali, encontraram a primeira evidência de que, após as eleições, pessoas muito próximas de Bolsonaro tramaram um golpe para anular as eleições.

Os agentes recolheram na residência uma minuta (proposta) de decreto para que Bolsonaro, enquanto ainda fosse presidente, instaurasse estado de defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O objetivo, segundo o texto, era reverter o resultado da eleição, o que, obviamente, seria um golpe contra a democracia. 

Mais tarde, com a apreensão do celular do tentente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, descobriu-se que outros documentos desse tipo estavam sendo produzidos e compartilhados por membros do antigo governo, deixando claro que um golpe foi seriamente tramado no interior do Palácio do Planalto.

O uso da PRF

Por fim, as investigações iniciadas após o 8 de Janeiro indicaram a participação direta de Anderson Torres no uso da PRF para dificultar que eleitores do Nordeste, onde Lula tinha mais votos, chegassem às sessões de votação no segundo turno.

Hoje, se sabe que, apesar de ter pouco mais de 17% das frotas de veículos do país, o Nordeste acabou registrando um terço das fiscalizações feitas nas estradas do país em 30 de outubro.

Além de ter nomeado o então diretor da corporação, Silvinei Vasques, Anderson Torres parece ter se empenhado diretamente na operação de sabotagem eleitoral. Documentos obtidos pela CNN comprovam que ele viajou à Bahia em uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) seis dias antes do segundo turno para tratar das operações nas rodovias.

As ligações de Torres com esses três ataques à democracia não surpreendem devido ao mau caráter que ele demonstrou ao exercer o cargo de ministro da Justiça. Como denunciou a Agência Pública, o ex-ministro usou a mãe como laranja em uma empresa suspeita de venda ilegal de aves; sabotou a Funai e atuou para dificultar a demarcação de terras indígenas, e, mais grave ainda, ignorou os alertas de que o povo Yanomami estava sofrendo com a fome e a mortalidade de crianças.

Da Redação do PT

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