Os juros extorsivos praticados pelo Banco Central do Brasil, presidido pelo bolsonarista Roberto Campos Neto, afetaram em cheio a capacidade das famílias de classe média de honrarem seus compromissos. A inadimplência cresceu, em ritmo mais acelerado, nesse segmento, cujos ganhos mensais vão de cinco a dez salários mínimos. De janeiro a abril deste ano, o índice passou de 20,4% para 22,6%, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, serviços e Turismo (CNC). É a maior proporção de inadimplência nessa faixa em toda a série histórica da pesquisa, iniciada em maio de 2021.
A CNC realizou esse recorte exclusivo a pedido do jornal Valor Econômico, com base na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), que abrange 18 mil famílias no país. A entidade apurou que a inadimplência avançou mais rápido na classe média do que em outras três faixas pesquisadas. Para especialistas, o cenário indica orçamento mais apertado da classe média este ano, com pouco fôlego para quitar em dia os empréstimos contratados.
“Temos cada vez mais pessoas atrasando pagamentos”, afirma Izis Ferreira, economista da CNC responsável pela Peic e pelo recorte dos dados.
Esse é um dos vários reflexos da ação sabotadora do Banco Central contra o desenvolvimento do país, capitaneada por Campos Neto, indicado ao cargo pelo governo anterior e que insiste em manter a taxa básica de juros da economia (Selic) em 13,75% ao ano, cuja taxa real é a maior do mundo, cerca de 8%.
O debate sobre os prejuízos dos juros elevados para a economia foi inaugurado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, logo após a sua posse, em janeiro. Em evento recente na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), alusivo ao Dia da Indústria, ele classificou o índice de 13,75% como uma “excrescência”, recebendo o apoio dos presentes. O presidente da Fiesp, Josué Gomes, disse, na ocasião, que “não podemos mais, como sociedade, admitir que se pratiquem esses juros”.
Danos generalizados
Além dos números relativos à classe média, os dados da CNC mostram que, independentemente da faixa de renda, os juros altos atingem todos os brasileiros. Segundo a entidade, a parcela de famílias brasileiras com dívidas (em atraso ou não) chegou a 78,3% em abril deste ano. A taxa é a mesma observada no mês anterior, mas está acima dos 77,7% de abril de 2022.
A previsão é que o percentual de 78,3% se mantenha em maio e junho e suba para 78,4% em julho, segundo a CNC.
A pesquisa também indica que a parcela de inadimplentes (com contas ou dívidas em atraso) chegou a 29,1% das famílias em abril, abaixo dos 29,4% de março, mas acima dos 28,6% de abril de 2022.
Aqueles que não terão condição de pagar suas dívidas somaram 11,6%, percentual superior aos 11,5% de março e aos 10,9% de abril do ano anterior. “Quem tem dívidas atrasadas há mais tempo segue enfrentando dificuldade de sair da inadimplência em função dos juros elevados, que pioram as despesas financeiras”, destaca a economista Izis Ferreira.
A cada 100 consumidores inadimplentes em abril, 45 estavam com atrasos por mais de três meses. Segundo a Peic, muitos consumidores têm recorrido ao crédito pessoal, modalidade em que os juros tiveram o menor crescimento (média de 42% ao ano), para pagar dívidas mais caras, como do cartão rotativo, por exemplo.
Do total de consumidores endividados, 86,8% têm dívidas no cartão de crédito e 9% com crédito pessoal. O uso do cartão é o maior em um ano, enquanto o do crédito pessoal supera os últimos seis meses, de acordo com a CNC.
Da Redação do PT, com Valor