Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, não quer largar o osso predileto do rentismo, os juros extorsivos de 13,75% estabelecidos pela instituição. As operadoras de cartão de crédito também não, já que continuam a escravizar a população com dívidas impagáveis contraídas pelo rotativo. Por causa dos juros anuais de 417,43%, pelo índice de fevereiro, as dívidas nessa modalidade do cartão de crédito são multiplicadas por cinco no espaço de apenas um ano, aponta reportagem da Folha de S. Paulo.
De acordo com a Associação Nacional de Executivos (Anefac) uma dívida de R$ 500 no cartão de crédito pode chegar a R$ 2.600 em 12 meses. Agora, pasmem: em cinco anos, com a Selic atual, o débito saltaria para R$ 1,8 milhão, aponta a associação.
“O endividamento do cartão de crédito sem dúvida é um dos mais vorazes do nosso país”, declarou o presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin), Reinaldo Domingos, à Folha. “Impossível assumir esse compromisso e pagar o total dessa fatura vencida quando passamos mais de meses com essa pendência”, explicou.
“A velocidade das dívidas de cartão de crédito, uma vez não pagas, são avassaladoras. São juros sobre juros”, esclareceu Domingos, que também é presidente da DSOP Educação Financeira.
Juros atingem famílias de baixa renda
“O desenho [do crédito do cartão rotativo] está prejudicando muito a população de baixa renda”, destacou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta semana. O ministro esteve reunido nesta semana com representantes de bancos e afirmou que o governo irá criar um grupo de trabalho, junto com o Banco Central, para discutir o assunto, hoje uma das maiores preocupações do presidente Lula.
“Uma boa parte do que pessoal que está no Serasa hoje é por conta do cartão de crédito”, declarou Haddad. “Não só, mas é também por cartão de crédito. E as pessoas não conseguem sair do rotativo. É preciso encontrar um caminho negociado como fizemos com a redução do consignado dos aposentados”.
Pacheco cobra Campos Neto sobre juros
Enquanto Campos Neto aposta no diversionismo para fugir do debate e não reduzir os juros, do lado do bom senso, mais e mais vozes juntam-se ao presidente Lula na defesa de uma agenda para o crescimento do país. Em um evento empresarial, em Londres, nesta quinta-feira (20), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, encarou Neto de frente e cobrou uma queda imediata da Selic.
“A inflação, meu caro Roberto Campos Neto, [está] contida, inclusive com viés de queda”, explicou Pacheco ao dândi do capital financeiro, que ouviu em silêncio. “A nossa moeda [está] estável. Agora, nós precisamos [fazer] crescer o Brasil. E nós não conseguiremos crescer o Brasil com a taxa de juros a 13,75%”, alertou o senador.
“Há divergências naturais entre o Executivo, o Legislativo, a sociedade e o meio empresarial. Mas se há algo que nos une nesse momento é a impressão, o desejo, a obstinação de reduzir a taxa de juros no Brasil”, clamou Pacheco. “Por isso eu quero pedir isso muito. É uma súplica do Senado Federal, meu caro presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto”.
De acordo com Pacheco, “há um sentimento geral hoje, que depende de base técnica, mas também de sensibilidade política, que nós precisamos encontrar os caminhos para redução imediata da taxa de juros sob pena de sacrificarmos o trabalho que fizemos ao longo do tempo”, avaliou o senador.
Da Redação do PT, com Folha de S. Paulo