Nos últimos 12 meses até outubro, IPCA variou 6,5%, enquanto o IPCA50+, que mede a “inflação dos longevos”, ficou em 7,2%. Hábitos de consumo fazem a diferença
Se a inflação desses anos de Jair Bolsonaro e seu ministro desaparecido Paulo Guedes assombra toda a população, para quem tem mais de 50 anos é ainda pior. Enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dos últimos 12 meses até outubro ficou em 6,5%, o IPCA50+ chegou a 7,2% no mesmo período, fazendo o dinheiro perder ainda mais valor para as famílias chefiadas por pessoas dessa faixa etária.
A “inflação dos longevos” foi criada pelo economista Arnaldo Lima, ex-secretário-adjunto de Política Econômica do antigo Ministério da Fazenda. A derivação do IPCA dá uma ponderação diferente para itens da cesta de consumo utilizada pelas famílias chefiadas por quem tem mais de 50 anos.
“Os hábitos de consumo das famílias cujo chefe tem 50 anos ou mais de idade são diferentes da população considerada pelo IPCA. Eles se concentram relativamente mais nos grupos Saúde, Transportes, Comunicação e Artigos de residência”, explica Arnaldo Lima, atualmente diretor do Instituto de Longevidade MAG.
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Por outro lado, essa parcela da população gasta relativamente menos em Habitação, Educação, Alimentação e Despesas pessoais. “Essas famílias possuem hábitos de consumo distintos, fazendo com que o impacto da inflação sobre suas despesas também seja diferenciado das demais faixas etárias”, afirma o executivo na Folha de São Paulo.
A “inflação dos longevos” ficou abaixo da média geral de janeiro de 2020, quando a série do IPCA passou a ser divulgada com os pesos da nova Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O IPCA50+ esteve geralmente abaixo do IPCA até maio deste ano, quando passou a ficar acima.
Uma das explicações é que a desoneração eleitoreira dos combustíveis ocorrida a partir daquele mês teve impacto maior sobre o índice geral do que sobre o IPCA 50+, devido à diferença de peso do item nas cestas de consumo dessas famílias.
“Em termos de expectativa de sobrevida, os cinquentões de hoje são os quarentões de ontem, mas com regras previdenciárias menos benevolentes”, compara o economista. “Ou seja, teremos uma população cada vez mais longeva, o que exigirá mais recursos disponíveis para fazer frente aos gastos crescentes, especialmente em saúde.”
Longevos estão mais ativos no mercado de trabalho
Enquanto a população com menos de 50 anos de idade cresceu 1,2% entre março de 2012 e março de 2022, a com mais de 50 cresceu 36,2%. A participação dessa população no mercado de trabalho vem crescendo 0,5 ponto percentual a cada ano. Das mais de 108 milhões de pessoas que compõem a força de trabalho no país, 23,5 milhões têm 50 anos ou mais.
Se esse público está mais ativo no mercado de trabalho hoje do que em décadas anteriores, seus familiares são mais dependentes financeiramente desses chefes de família. “O que exigirá mais poupança para o futuro e a utilização de um índice de inflação mais aderente para fins de planejamento previdenciário”, pondera Lima.
“Até porque o tempo mínimo de contribuição exigido para fins de aposentadoria no Regime Geral de Previdência Social (RGPS), respeitada a idade mínima, são 15 anos, para mulheres e homens que entraram no mercado de trabalho antes da aprovação da última Reforma da Previdência”, conclui o economista.
Também existem vários índices de preços específicos para acompanhar o impacto dos preços sobre as famílias compostas por pessoas com 60 anos ou mais. O IPC-3i, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), por exemplo, se baseia no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) dos Índices Gerais de Preços (IGP) da instituição. A Fipe também começou a divulgar o IPC 60+, baseado no IPC, a partir de julho de 2021.
Lima ressalta, no entanto, que a família chefiada por alguém com mais de 50 anos que continua no mercado de trabalho sente o impacto da inflação também de forma diferente do que a população com mais de 60 anos. Itens como transportes, vestuário, despesas pessoais e comunicação têm peso maior no índice das famílias chefiadas por pessoas com mais de 50 anos. Já para quem tem mais de 60 anos, a influência maior é do grupo de alimentos e habitação.
Fonte: Site PT, com informações da Folha de São Paulo