Enquanto a estatal distribui dinheiro para ricos, Bolsonaro mantém dolarização e tira receita dos estados para baixar preço da gasolina eleitoralmente. “Nós temos aí uma perversidade”, diz Sergio Gabrielli
A Petrobrás iniciou nesta quarta-feira (31) a farta distribuição de recursos para acionistas endinheirados que a transformou na maior pagadora de dividendos do mundo no segundo trimestre. Fruto da transferência de riqueza da população brasileira para a minoria privilegiada, o volume (R$ 87,8 bilhões) foi considerado “estarrecedor” pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), que teme pelo futuro da empresa.
Enquanto os ricaços contabilizavam os lucros, Sergio Gabrielli, mais longevo presidente da estatal, explicava no Jornal PT Brasil porque um eventual novo Governo Lula modificará essa política predatória adotada após o golpe contra Dilma Rousseff. E também porque o “castelo de cartas” montado por Jair Bolsonaro para reduzir o preço da gasolina às custas das receitas dos estados, sem mexer na dolarização dos preços, poderá desmoronar a qualquer momento.
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“O que o Bolsonaro fez foi ajustar o preço nas bombas usando o chapéu alheio, usando as receitas dos governos estaduais, reduzindo o ICMS que é utilizado nos estados para pagar professores, a segurança pública, os gastos com saúde”, enumera ele. “Nós temos aí uma perversidade, que é penalizar os estados para reduzir os custos da gasolina.”
“Nós estamos importando gasolina, diesel e gás de cozinha. Essas importações estão ocorrendo porque as refinarias que deveriam ser feitas para ampliar a capacidade de refino do Brasil não foram feitas”, prossegue Gabrielli. “Ao invés de construir refinaria, nós passamos a estimular a importação desses derivados, e com isso passarmos a depender muito do quadro internacional.”
Gabrielli lembra que o preço do diesel, que afeta tanto o transporte coletivo urbano quando o transporte de carga rodoviária, não caiu tanto quanto o da gasolina. Como os preços internacionais do petróleo continuam muito altos, e tendem a continuar altos com o inverno no Hemisfério Norte, o diesel continuará caro nos próximos meses, afetando a produção agrícola e penalizando na ponta do consumo as famílias brasileiras.
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“Nós temos um segundo problema”, aponta o ex-presidente da Petrobrás. “Como 27% de nossa gasolina é etanol, e os postos de gasolina oferecem etanol hidratado, nós estamos também tornando muito complicada a vida dos produtores de álcool no Brasil, pois a diferença de preços do etanol hidratado para gasolina diminuiu, e aí o consumo de combustível de hidratado do etanol também caiu muito.”
Golpe usurpou subsídios do gás de cozinha, que virou artigo de luxo
Quanto ao gás de cozinha, que se tornou produto de luxo nas casas das famílias mais pobres, Gabrielli lembra que durante os governos do PT a Petrobrás praticava uma política de subsídios cruzados que não alterava tanto o preço do gás liquefeito de petróleo. A participação na receita da empresa é pequena, o que possibilitava essa política, extinta após o golpe contra Dilma Rousseff. Outra perversidade.
“Nós temos o aumento da produção de gás natural, que possibilitaria produzir gás de cozinha a partir da separação do propano e butano do gás natural”, explica o ex-presidente da Petrobrás, fazendo uma ressalva. “Essa nova fonte exigiria mais unidades de processamento de gás natural, mais investimentos no transporte do gás natural, principalmente do pré-sal, para o processamento em terra, coisa também que esse governo, e o governo do Temer, deixaram de fazer.”
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Para Gabrielli, a gestão bolsonarista da Petrobrás está na contramão do que deveria fazer para oferecer à população combustíveis a preços justos e cumprir sua função social como empresa do Estado. “Evidentemente que isso pode ser mudado no curto prazo, reduzindo parte da lucratividade da Petrobrás, que é muito grande”, ressalta ele.
Abrasileirar os preços dos combustíveis é o caminho de curto prazo apontado nas diretrizes do programa de governo da candidatura Lula-Alckmin registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), aponta Gabrielli. “Isso significa levar em conta que a produção da matéria-prima para esses derivados, que representa na produção brasileira algo em torno de 70 a 80%, tem um custo muito menor do que o preço internacional.”
No médio prazo, será preciso retomar o projeto de expansão das refinarias brasileiras, na direção contrária ao que a gestão bolsonarista da Petrobrás faz no momento. Após o desgoverno Bolsonaro vender a refinaria da Bahia para um grupo privado, o Cade aprovou nesta terça (30) a venda da refinaria de Manaus. Antes do fim do ano, pretende-se entregar as refinarias de Pernambuco, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. “Isso é um absurdo, porque você vai desmontar um sistema produtivo muito sólido que existe no Brasil”, finaliza Gabrielli.
Fonte: PT