“Em 2020, Bolsonaro sabotou o auxílio de R$ 600. Agora, com dois anos de atraso, volta ao valor por causa das eleições, mas inflação corroeu poder de compra dos brasileiros”
Na base do desespero, Jair Bolsonaro segue firme na tentativa de emendar seu mal planejado e insuficiente Auxílio Brasil. Depois de ver o aumento eleitoreiro apelidado de auxílio picolé, por durar pouco, só até logo depois das eleições, ele prometeu, no domingo (25), que o valor de R$ 600 continuaria em 2023.
É difícil acreditar. Mas, mesmo que, milagrosamente, Bolsonaro desta vez cumpra sua promessa, não conseguirá desfazer o fato de ter governado o tempo todo para os ricos e com máximo desprezo pelos mais pobres. Afinal, os fatos, ao contrário do ex-capitão, não mentem.
Desde que surgiu, o Auxílio Brasil é cercado de mentiras. Recentemente, por exemplo, técnicos do governo admitiram que não deve ser possível zerar a fila dos que esperam receber o benefício, uma das promessas feitas por Bolsonaro para aprovar sua PEC eleitoreira, que subiu o valor para R$ 600 até dezembro.
Outra lorota é a de que esses R$ 600 são suficientes. Matéria publicada na Folha de S. Paulo esta segunda-feira (25) mostra que os R$ 200 extras, até agora assegurados só até o fim do ano, não devem trazer de volta ao carrinho itens básicos, como carne, leite e seus derivados, entre outros.
Informa a Folha: “Naquele ano (2020), com R$ 200 no supermercado, o consumidor levava para casa 18 itens, incluindo arroz, feijão, carne, leite, ovos, queijo mozarela, macarrão, bolacha e alguns legumes. Neste ano, os mesmos itens custam mais de R$ 300, segundo a cesta básica do Procon-SP (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor) e do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos)”.
Segundo cálculos de Matheus Peçanha, pesquisador e economista do Instituto de Brasileiro de Economia (Ibre), os R$ 200 de 2020 representam atualmente R$ 163,91. Já os R$ 600 equivalem a R$ 491,72.
Mais de 47 milhões perderam benefício
Outra forma que Bolsonaro usa para tentar enganar a população é repetir que o valor pago pelo programa que ele criou é maior que o do Bolsa Família. A comparação não faz sentido algum, afinal o Bolsa Família foi pensado para a realidade de quase 20 anos atrás.
Se quisesse ser honesto, Bolsonaro compararia o Auxílio Brasil ao Auxílio Emergencial, que foi criado na época da pandemia, levando em conta a realidade atual dos brasileiros. E essa comparação também desmonta a ideia de que a ajuda aos mais pobres aumentou.
Vale recordar. Em 2020, o governo Bolsonaro queria dar um Auxílio Emergencial de R$ 200. Foi a oposição no Congresso Nacional que se mobilizou para que o valor fosse de R$ 600 e beneficiasse 65 milhões de brasileiros.
Cinco meses depois, em setembro de 2020, porém, Bolsonaro reduziu o Auxílio Emergencial para R$ 300. E, em janeiro de 2021, deixou de pagá-lo, deixando todos os beneficíários entregues à fome.
O Auxílio Emergencial só voltou a ser pago em abril de 2021, com um valor médio de R$ 375 e para apenas 39,4 milhões de brasileiros (outros 4,5 milhões continuavam recebendo o Bolsa Família, totalizando pouco menos de 44 milhões de beneficiários).
Até que, em novembro de 2021, Bolsonaro anunciou o fim do Auxílio Emergencial e do Bolsa Família e criou o Auxílio Brasil, no valor de R$ 400 e para apenas 14,5 milhões de pessoas, abandonado todas as outras que um dia haviam recebido o Auxílio Brasil.
Depois, esse número cresceu um pouco, para 17,5 milhões de pessoas, com previsão de subir para 20 milhões. E, a partir de agosto, o valor será, de novo, de R$ 600. Ou seja: em 2020, 65 milhões de brasileiros recebiam R$ 600. Só agora, pensando nas eleições, Bolsonaro retomou esse valor, mas para um número bem menor de pessoas e com o poder de compra corroído pela inflação.
População não se engana mais
Se quisesse mesmo socorrer o povo, Bolsonaro teria mantido o Auxílio Emergencial em R$ 600 dois anos atrás e não teria suspendido seu pagamento no início de 2021. Agora, em 2022, estaria aumentando para além dos R$ 600, para compensar a inflação absurda que ele e sua equipe incompetente não conseguem controlar.
Mas não. Bolsonaro abandonou o povo a todo instante e só agora, perto das eleições, retoma os R$ 600 para ver se ganha algum voto. A população, porém, já deixou de acreditar nas suas histórias e não quer soluções eleitoreiras de última hora. Quer alimentos mais baratos, quer emprego, quer salário mínimo valorizado. E nada disso Bolsonaro se mostrou capaz de dar.
Fonte: Site PT